Mecila

#29 – Uma visita ao Museu das Culturas Indígenas de São Paulo

Uma visita ao Museu das Culturas Indígenas de São Paulo: Lembranças, ecos y reflexiones polifónicas

Global Convivial Forum 

Flávia Meireles, Berit Callsen, Mariana Simoni
(Mecila Thematic Research Group 2023)
Passamos uma tarde sendo guiadas/os pelas mestras/es dos saberes e educadores, que nos apresentaram quem faz e como funciona o MCI, visitando suas exposições atuais e sensibilizando-nos sobre os modos de conhecer/viver indígenas que dão vida aquele espaço.

 

Um lugar físico para a Transformação. Inscrever essa Transformação escrevendo-a na faixa pendurada em uma construção de concreto, mas com isso também deslocá-la, impedir sua rigidez, insinuando que ela pode ocorrer em qualquer ponto daquele espaço limitado – demarcado – do Museu das Culturas Indígenas (MCI) convertido em “Tava” – Casa de Transformação.

Em nossa primeira visita cultural, no dia 22 de junho de 2023, e integrando o grupo de todos os Junior e Senior Fellows do Mecila, nós – Flavia Meireles, Berit Callsen e Mariana Simoni, agrupadas como Thematic Research Group –, estivemos no Museu das Culturas Indígenas, prédio vizinho ao Parque Água Branca, na cidade de São Paulo. Importante mencionar que tal visita estava dentro de uma programação mais extensa, com organização de Roberta Hesse, da short-term visit do intelectual equatoriano do povo Palta Ángel Ramírez, vice-reitor de Pesquisa e Extensão da Universidad Intercultural de las Nacionalidades y Pueblos Indígenas Amawtay Wasi (UINPIAW), em Quito (Equador). Ramírez estava conosco nesta visita como uma das diversas atividades que pudemos fazer juntos durante as duas semanas de sua estadia em São Paulo.

O MCI é, sob a perspectiva originária, chamado de Tava, ou Casa de Transformação, como contaram Cristine Takuá e Carlos Papá, dois dos gestores do Museu, em outra ocasião. Passamos essa tarde sendo guiadas/os pelas mestras/es dos saberes e educadores, que nos apresentaram quem faz e como funciona o MCI, visitando suas exposições atuais e sensibilizando-nos sobre os modos de conhecer/viver indígenas que dão vida aquele espaço.

Vale destacar que a gestão do MCI – que no último dia 29 de junho completou um ano de abertura –, é fruto da conquista dos movimentos indígenas (representados pelo Conselho Indígena Aty Mirim) de fomentar, na cidade de São Paulo, o direito ao território e à educação diferenciada através de uma gestão co-indígena. O MCI é, simultaneamente, lugar de acolhimento para indígenas e meio de educação para não-indígenas sobre – e, principalmente, com – os diferentes povos e cosmologias de Aby Ayala. Essa gestão é sediada em equipamento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, sob administração compartilhada entre o Instituto Maracá e a ACAM Portinari.

A visita começou com uma grande roda de boas-vindas na parte externa do MCI, em meio às intervenções artísticas nos muros e fachadas do prédio, que já nos envolviam com artes, imagens e grafismos de diversas etnias, dando cor, tom e destaque aos saberes indígenas espraiados por toda parte do imóvel, tornado ninho, refúgio e lugar de trocas indígenas. Também tivemos contato com artesanatos vendidos por indígenas que vêm de muitos territórios e têm no MCI um ponto de apoio para suas vendas.

Adentramos o prédio até o sétimo andar, local onde começou a visita guiada. Fomos descendo os andares e nos deparando com diferentes salas e exposições, que eram ativadas pelos mestres/as dos saberes, enriquecendo nossa experiência sensorial, cognitiva e cosmológica sobre as etnias.

A enorme cobra – cobra grande – localizada nesta sala multiuso, sobre a qual as pessoas visitantes eram convidadas a sentar, além de evocar a imagem da transformação em muitas cosmologias indígenas também provocavam de forma muito concreta a mudança da percepção das visitantes, porque as impelia, ainda que brevemente, a se relacionar com o próprio corpo de maneira diferente.

Ygapó terra firme

“Ygapó, do Tupi Antigo ‘Raízes d´Água’, é um ecossistema formado nas mais antigas regiões geológicas da terra, proveniente de milhões de anos para que a flora resistente pudesse enfrentar as condições de contínuas mudanças e um terreno pobre em nutrientes. […] Ygapó terra firme é a metáfora da resistência indígena, que mesmo em constante ameaça externa vem pela coletividade e compartilhamento de saberes tornar possível o vislumbre de uma futura existência.”

Estas frases se retoman del texto explicativo en la entrada de la segunda sala del museo que alberga una exposición del artista y curador Denilson Baniwa. Al entrar en este espacio llama la atención la oscuridad en él. Las paredes son negras, en ellas relucen escrituras, palabras e imágenes escritas y dibujadas con tiza en diferentes lenguas indígenas y en portugués – noticias, reacciones e impresiones dejadas por los visitantes que son iluminadas por pequeñas lámparas.

La mayor fuente de luz proviene de una pantalla grande en el fondo de la sala, en la que se proyectan diferentes vídeoclips de grupos musicales apropiándose de la cultura pop. Al acercarse a la pantalla, se nota una cuenca con agua en el suelo. El agua no está quieta, sino que se mueve debido a un aporte. Esta es la sala del Ygapó. La superficie líquida y dinámica refleja las imágenes de la pantalla, las multiplica, invierte y modifica. Además, el agua transporta el sonido a su profundidad; se vuelve tanto espejo coalescente como espacio de resonancia haciendo que la sala entera devenga en un ecosistema resistente.

El grupo de rap Oz Guarani canta:

“[…] O índio é forte e sobrevive jogado à própria sorte
O índio é forte e sobrevive jogado à própria sorte                                                             
Como pode, sem terra pra morar, sem rio para pescar
O Juruá [não indígena] desmata a mata e mata os M´bya [indígenas]
Mas Wera MC e Oz Guarani
Não cansa de lutar, e seguiremos assim até a morte
O índio é forte […]”

museu das culturas indígenas
museu das culturas indígenas 2
Créditos das imagens: Flávia Meireles

Los/as visitantes-espectadores están buscando su lugar en este espacio del que ya forman parte. Convivir en la diferencia, compartir espacio – en su libro Ideias para adiar o fim do mundo Ailton Krenak lo llama “fricção”, esto es “ser capaz de atrair uns aos outros pelas nossas diferenças, que derivam guiar o nosso roteiro de vida” (Krenak 2020: 33).

La sala del Ygapó cultiva raíces de agua, apela a la capacidad de la convivialidad, invita al diálogo, recordando y haciendo escuchar voces resistentes. En este espacio performativo, las paredes, la pantalla y el agua devienen dispositivos intermédiales de la polifonía.

Pero es el agua como dispositivo fluyente y movido que desprende una mayor dinámica material y una heterogeneidad semántica en este contexto. Así, la cuenca funge no solamente como espejo líquido de la pantalla, sino que, en relación de sinécdoque, puede hacer referencia al acuífero Guarani, una de las más grandes reservas subterráneas de agua dulce del planeta. Localizado en gran parte del territorio brasileiro, el acuífero es amenazado, constantemente, por la acción humana que conduce a la polución del suelo, a la contaminación y a la modificación de la vegetación nativa de la zona. Así, el agua en la sala del Ygapó no solo refleja el canto resistente, sino que lo incorpora y lo adquiere en un gesto de solidaridad existencial. Es este canto líquido que por medio de su materialidad fluida sabe irritar y subvertir también esquemas binarios. La liqui-dación de relaciones dicotómicas como las entre sujeto-objeto, hombre-naturaleza y agua-tierra puede ser uno de sus efectos epistémicos.

No andar seguinte chegamos, sempre guiados pelos mestres/as, a uma sala cujas paredes e teto eram cobertas de barro, dando uma coloração ocre ou de terra vermelha, sob uma penumbra e o chão coberto com ervas e folhas secas, de diferentes odores, perfumando nossa entrada e narinas. A sala, numa primeira vista, parecia um abrigo na floresta. Este espaço também faz parte da exposição “Ygapó – Terra Firme”, do artista Denilson Baniwa e traz para a Tava parte da floresta, dando relevo, cor, dimensão, escuta e olfato à experiência imersiva.

Museu das culturas indígenas 3
Créditos da imagem: Flávia Meireles

Houve convite para que ficássemos descalços, podendo sentir a textura e o barulho das ervas e folhas secas espalhadas pelo chão, como se entrássemos na mata ou numa casa na floresta, com diferentes cheiros e sons. As solas dos nossos pés eram, então, estimuladas por diferentes texturas e sons estalavam do contato delas com as folhas, anunciando por onde íamos e criando uma ambientação sonora coletiva, já que éramos muitos pés descalços na mesma sala. Isso trazia uma espacialização do som e nos dava pistas de por onde nossos colegas iam pelo espaço, produzindo música com os passos nesse ambiente mata-casa-núcleo expositivo. No centro da sala, parte em penumbra, parte visto, um tronco espesso de árvore estava deitado no chão, sugerindo que o utilizássemos como banco, como parceiro de apoio para nossos corpos, como lugar de descanso. Depois de um tempo circulando pelo espaço, numa coreografia sonora, nos sentamos no tronco ou ao redor dele para ouvir as histórias e causos de Natalício, indígena da etnia Guarani Mbya, morador da Terra Indígena (TI) do Jaraguá.

foto 4
Créditos da imagem: Flávia Meireles

Transformação no espaço e nos corpos

Nesta casa o fora e o dentro se integram de maneira tão orgânica que por um momento esta distinção parece ficar em suspenso. Por exemplo: “IMAKÃ UG KUHUKÊ” [“Mãe e filha, abrigo para os sonhos em tempos difíceis”], o mural com a imagem de uma mãe e uma bebê onça, da artista pataxó Tamikuã Txihi, que se encontra no pátio do Museu. Aqui a diferença de tamanho entre ambos os animais, mas também a própria posição de seu olhar recíproco – a mãe olha para baixo e a filha olha para cima – já remetem à transformação: o que chama atenção neste mural, além desta simples troca de olhares entre uma onça grande e uma pequena, é o toque entre elas, mais especificamente a ausência de espaço vazio entre seus corpos, que só ocorre no espaço verde entre as pernas dianteiras da onça-mãe. A contiguidade dos desenhos sugere uma continuidade na própria imaginação de quem olha, que automaticamente completa o corpo da onça filhote. Essa integração visual opera destruindo a ideia de tempo que situa a mãe no futuro, uma vez que o corpo da filha de fato não existe autônoma e materialmente sem o corpo da mãe. Ao mesmo tempo, quem olha precisa do corpo da filha para imaginar que o corpo da mãe se encontra no plano de trás, superposto por ele. Em outras palavras: aqui temos uma transformação que se configura simultaneamente no presente, no passado e no futuro. Que se faz ver no espaço. E nos corpos.

Muito mais do que um continente que abarca um conteúdo, um acervo de objetos, este museu parece operar como uma moldura que, antes de mais nada, afirma e inscreve performativamente seu direito de existir na geografia da cidade. Cristine Takuá afirma que o MCI não tem somente acervos, mas sim, pessoas, ressaltando o caráter dinâmico desse espaço como Tava que, a partir da lógica transitória da transformação, se abre para as culturas indígenas em constante movimento, afirmando, portanto, sua própria vida e atualidade.

foto 5
Créditos da imagem: Flávia Meireles

Krenak, Ailton (2020): Ideias para adiar o fim do mundo, São Paulo: Companhia das Letras.

#28 – The Tip of Mecila’s Iceberg: Collective Testimonial

Global Convivial Forum 

Jörg Dünne, Vanessa Massuchetto, Joanna Moszczynska, Jessica O’Leary,
Raphael Schapira, Simone Toji, Ana Carolina Torquato, Daniela Vicherat Mattar (Fellows 2022)
 

En este texto the fellows 2022 queremos describir en parte nuestra experiencia en Mecila. Hemos armado un texto usando como inspiración na idea surrealista del “cadavre exquis”. Todas y todos contibuimos con un párrafo en cada una de las secciones que articulan el texto, and we did it in the different languages we spoke during out fellowship. Finalmente, decidimos manter a autoria coletiva, como um reflexo de nossa experiência como fellows.

Locating Mecila

Visto desde el patio del Cebrap en Vila Mariana, Mecila parece bien übersichtlich (easy to be grasped at one glance): en la parte de atrás trabajan la mayoría de los fellows, en la parte de delante el staff del Mecila y en medio hay el bar donde todos se encuentran. Mas não é assim tão simples: Prussian bureaucracy rules
also in Brazil, directors from Cologne falam portunhol (pode ser Pedro), y los libros del Iberoamerikanisches Institut no pasan por la aduana brasileña. At the Annual Meeting in October, the hidden part of the Mecila iceberg finally appears…
 
Arriving at Mecila, I was very excited and curious about what 2022 was going to be like. All my expectations were surpassed not only because of the high academic level of all studies we debated, but mostly because of the people. The principal and associated investigators, the people from the coordination office, the Ph.D. students, and, of course, our group of fellows amazed me on a daily basis with a very very kind conviviality.
 
Entonces, yo puedo decir que el ambiente de trabajo de Mecila es tan agradable como el de la casa de Cebrap. Personas muy maravillosas, construcción de relaciones sinceras y trato siempre muy humanizado entre todos, me he sentido realmente querida y respectada. Toda esta experiencia la llevaré para siempre en lo más profundo de mi corazón.
 
Não esperava encontrar um grupo de fellows e uma comunidade tão generosa quando eu embarquei para o Brasil pela primeira vez faz dois anos. Para ser sincera, tinha um pouco de medo sobre minha recepção por ter chegado tão tarde. Porém, fui recebida with open arms and open minds. Tanto minhas metodologias de pesquisa quanto minhas redes de colegas se desenvolveram graças à oportunidade cedida pelo Mecila. Fico muito feliz quando penso sobre meu tempo como Junior Fellow e sobre as colaborações e trabalhos coletivos que o futuro trará.
 
Há una mesa at Cebrap. E uma sala de trabalho en USP. Um auditório no Cebrap. A meeting room at USP. Hay el espacio vivo de la cafeteria en Cebrap. E os corredores vazios de la USP. Livros para consultar online pelo site do
Iberoamerikanisches Institut. Books to handle physically at the Instituto de Estudos Brasileiros. There is the coordination office in São Paulo. Y el staff remoto desde Cologne y Berlin. Há doctorandos, Junior and Senior Fellows, los pesquisadores principais e associados. Também os distinguished lecturers e las equipas temáticas. Isso é um pouquinho de Mecila. Isso é um pouquinho de São Paulo. E um tantão de generosity, rigor, criatividad, hospitalidade, friendship e, why not?, convivialidad.

collective testimonial
Mecila Archive/Photo by Marina Belisario
São Paulo – Sampa – SP – a city that seems infinite. I came here searching for space to think about my research (and life) differently. SP gave me that. Was it intimidating? Of course! Was it worth it? Even more! Mecila sits well in this city: it is a centre that offers a space to think and dissent with . As an intellectual space Mecila values and encourages different approaches, methodologies, disciplines, life trajectories, languages and projects. This implies there is some level of chaos: a bit is avoidable improving logistics, most of it is the necessary messiness to keep the space open to different engagements. Vamos lá!
 
Coming to São Paulo for work and going to Rio de Janeiro several times for fieldwork has been a personal and professional experience that has enriched me profoundly. The people I met and exchanged experiences with were extremely generous in sharing their time with me, which makes me very grateful for having had the chance to come to Brazil as a Mecila Junior Fellow. However, this experience came at the cost of being away from my family for too long. What felt like a privilege initially became a difficult obligation over the long run. Maybe, the hybrid modes of combining working online and offline developed during the pandemic could help us create more family-friendly models of academic fellowships.
 
Encontros e reencontros: o Mecila foi lugar de convivialidades em diferentes níveis. A casa linda do Cebrap, a ilha verde de Vila Mariana, as árvores longevas e o prédio moderno da USP, a parede infinita de livros do IEB, la Universidad de La Plata… So much space filled with tanta gente boa! O Mecila foi um processo de descoberta constante, aos poucos a imensidão da rede de pesquisadores foi se revelando mais nítida. Acá se puede ver todo: un microcosmos del mundo contemporáneo. Saudade. Nostalgia. Sehnsucht.
 
Although my stay at Mecila in SP lasted only six months and I was not able to participate in the annual meeting, I feel I am an integral part of this one-of-a-kind convivial constellation that we have created. But there is also my personal story entangled within, that will stay with me for my whole life. Between colloquia and
doctors appointments, research and unpredicted need for a nap, commuting to Cebrap and an overwhelming wave of nausea, an uncontrollable urge to enjoy uma coxinha and having to find comfort in torrada, we made it through! Me and my Polish-Brazilian-Berliner-Mecilan baby Junior Fellow. Thank you, dear Mecila colleagues and friends, for all the support, to make my last three months in São Paulo not any less enjoyable!
 

São Paulo como laboratório da convivialidade e desigualdade

Ser parte de Mecila comienza antes de llegar a São Paulo, once there, es como formar parte de una comunidad en constante proceso de reproducción: intelectual, política, afectiva. Hay muchas formas en las que la comunidad se materializa día a día: el café en el Cebrap, la búsqueda de lugares nuevos para almorzar, ir a tomar unas cervezas o cachacinhas por ahí, compartir el gusto por descubrir comidas nuevas (desde el Amazonas a Taiwan!) y tantos, pero tantos, eventos culturales y artísticos que nutren y dan forma a esta experiencia individual, y también colectiva, de formar parte de Mecila.
 
São Paulo é um laboratório da convivialidade e desigualdade. Devido à pandemia, o número de indivíduos sem abrigo e consumidores de substâncias tóxicas aumentou, assim como a desigualdade social. E é impossível fazer vista grossa a essa situação de precariedade. O significado da convivialidade em nossos projetos teve que ser confrontada com o espaço por nós vivido, compartilhado; com os contrastes drásticos da vida urbana em uma metrópole de 20 milhões de habitantes. Também o significado da consciência da classe social tornou-se urgente a repensar, tendo em vista o êxito do presidente Lula em eleições recentes em outubro de 2022. Tem esperança? Tem sim. Eu nunca esquecerei o dia em que vi um jovem homem em condição de rua perto da Praça da República sentado no chão e lendo Durkheim.
 
As I am crossing the bridge from Vila Mariana to the Ibirapuera Park, I follow the gigantic letters written on it: “BRASIL TERRA INDÍGENA”. Watching the impressive ebb and flow of cars below, I ponder how the missing verb gives the phrase a timeless and undefined character. As I look at the obelisk in the distance, I am reminded how I witnessed to its feet an impressive motorcycle caravan celebrating an elderly, unhealthy looking man wanting to get re-elected. It was loud, stinky, and full of exhilarated men. Given the martyr-related inscriptions on the Obelisk, it seemed only consequential for the rally to end there: fascism loves death. If democracy wants to survive, it must learn to love life, disconnect itself from the logic of hypermasculinity and extractivism, and protect the protectors of the land. BRASIL É TERRA INDÍGENA.
 
La comunidad Mecila is an ever-evolving being, com múltiplas estruturas e variadas formas de encuentro. Between the virtual and the face-to-face, hay muchas posibilidades de contato e trocas. Una se va haciendo como miembro de Mecila in participating in the online meetings of the Research Areas o los encuentros presenciales del General Colloquium y el Annual Meeting, como también interaccionando con os working papers, podcasts, assim como os textos do blog ou the Glossary video series. There are many ways to engage with esta grande rede, que no se agota con la estadia temporária en Sāo Paulo. Pero la estadia is a discovery adventure em si mesma…
 
Most of us were living in a semi-touristic environment, moving like urban nomads from one temporary residence to another, escaping from noisy construction sites in the neighborhood and looking for places that weren’t too cold and neither too gray during the long and rainy winter days of São Paulo. But since not so many tourists stay here for more than a few days, when I had successfully acquired my CPF number, my RNM and my bilhete único, I considered myself entitled to share the city “locally” with its other residents through the weak, but persistent ties of its daily infrastructures.
 
São Paulo is not a very popular city among Brazilians. Most Brazilians, whether paulistano or otherwise, tell me that São Paulo é uma cidade difícil. When I lived here for the first time in 2018, I did not share that experience. But this time I definitely had my moments of frustration with the city – the traffic, the pace, the bureaucracy. Even so, I have a certain fondness for its skyscrapers, its street art, its chaos. I feel more connected to locals having a complicated relationship with SP, and will miss its charms once I’m gone.
 
collaborative testimonial
Mecila Archive/Photo by Marina Belisario
The constant noise and the overwhelming urban landscape are some of my issues with the city. I feel like I cannot remember what silence is anymore. São Paulo definitely has a way of making itself present in your body and mind. However, having the experience of living in one of the largest cities in South America has taught me much about living together, convivialidade, about Brazil, and about myself. It’s been a remarkable experience which I’ll certainly never forget.
 
Confesso que eu tinha na cabeça vários estereótipos desta cidade antes de estar nela por nove meses. Em anos anteriores, eu havia passado por ali apenas uns poucos dias e sempre sem entrar no mesmo fluxo dos citadinos. Algumas visitas turísticas aqui e ali, conhecer a Pinacoteca e o Teatro Municipal, passear no Viaduto do Chá e entrar no Largo São Francisco haviam sido algumas das minhas atividades quando estive por aí. Desta vez, nenhum daqueles meus estereótipos acabou sendo a São Paulo que encontrei. Seja por ter acompanhado a bateria feminista do PSOL em um domingo pré-eleições pela Avenida Paulista, seja por conviver com a politização às vistas nos espaços urbanos, seja pelas culinárias diversas que tive oportunidade de provar, São Paulo, por fim, surpreendeu-me. Fecho este momento da vida tendo sido muito feliz aqui. E, então, eis que o maior centro urbano da Capitania da qual também faço parte deixará marcas muito nostálgicas em minha vivência.

Pensando en conjunto

A space to meet and practice conviviality by discussing theory, methodology y otras cositas más. Un momento para compartir el trabajo de investigación en curso y recibir aportes de investigadores das mais variadas experiências e disciplinas. Um ambiente generoso no qual a apreciação e a crítica são exercidas de modo construtivo and insightful. A commitment para encontrarse periodicamente y conocer mais a fundo o trabalho de colegas fellows e doutorandos.
 
Esse lugar comum – que é bastante incomum – funciona como um oásis de saberes, cercado por plantas de várias espécies de animais e vegetais. Um mar de respiro em meio à paisagem gris paulistana; onde se encontra o silêncio dentre a poluição sonora de construções que nunca parecem cessar de modificar a paisagem. Eine Kaffeepause… y ya está! Escrever e pensar colaborativamente ficou mais fácil aqui.
 
Qual seria a receita para um trabalho convivial de escrita e pensamento? Almost fifty years ago Ryszard Kapuscinski upon his visit to Chile during the Cold War wrote:

I spent a long time forcing my way through that underbrush, the exuberance, the façades and the repetitions, the ornamentation and the demagogy, before I reached the person, before I could feel at home among these people and recognize their dramas, their defeats, moods, romanticism, their honour and treason, their loneliness.
(The Soccer War, 1992)

Conviviality in this sense, could be understood as a discipline of sensibility and integrity, intellectual and emotional. It seems that during our time in SP, we have managed to combined both.
 
It is rare indeed to share space, physically and intellectually, with such a group of generous scholars and thinkers in a city like São Paulo. Our casinha branca in Vila Mariana functioned like an oasis, with its greenery and quiet away from the hustle and bustle of the city, while our pilgrimages to USP reminded us of the special academic setting in which we found ourselves. Conviviality is often marked by inequality, as our studies and conversations often suggest, but my experience of Mecila conviviality has been one of few tensions and fewer
inequalities and, instead, one of rich opportunities for growth and friendship.
 
Esse embodiment das convivialidades nos trouxe o que de melhor a academia pode proporcionar. É como havermos vivido na prática alguns dos temas que se intercruzam com as nossas pesquisas sempre em termos muito positivos. O crescimento que tivemos não apenas nos momentos dos eventos acadêmicos como os
General Colloquium e o Annual Meeting, bem como nos contatos diários com os colegas de trabalho irão nos acompanhar para sempre em um local de profundo carinho em nossos corações. Saímos desta experiência com a felicidade que o partilhar a vida e o trabalho com pessoas incríveis nos trouxe.
 
How to feel at home when being uprooted? Uno de los costos de migrar (biográficamente, y también intelectualmente) es que a veces es difícil encontrar certezas. Es especial encontrar un grupo humano académico con la generosidad y el rigor suficientes como para ofrecer certezas en la crítica. Es difícil encontrar un espacio abierto que contenga y abrigue como el Cebrap (y la USP). Es muy gratificante haber sido parte de este proyecto, con sus dificultades y muchas virtudes, especialmente la de seguir preguntándose sobre la posibilidad de vivir juntes en un mundo, y una América Latina, desigual.

Un seminario es un laboratorio común que permite a cada uno de los
participantes articular sus prácticas y sus propios conocimientos. […] [L]os
efectos de producción discursiva que engendra no son más que
tangenciales en relación con la riqueza proliferante y silenciosa de los
viajeros que se detienen un rato en la estación.

(Michel de Certeau, “¿Qué es un seminario?”, 1978)

We cannot escape the effects of power: Who speaks and moves when, where, and how? Where are people located in space? How is space structured, and which forms of associating does it facilitate? Who is present, and who is not? Of course, there is no (academic) space free of these questions, but working in a Mecila environment in which these form part of the researchers’ agenda also influences how people relate to each other. Maybe this is why Mecila fosters such a supportive research community, and it would be only consequential to invite more (organic) intellectuals from disadvantaged socio-economic backgrounds into it to yield new perspectives on the conviviality-inequality nexus.

Mecila/ DALL.E