Mecila
10 Sep

Mecila na Ocupação 9 de Julho

Ocupação 9 de Julho, São Paulo

Acerca del evento

[Esta programação faz parte do Encontro Anual do Mecila, sob o tema “Abordagens relacionais sobre convivialidade e desigualdade na América Latina”.]

Data: 10.09.2025 (Quarta-feira)
Local: Ocupação 9 de Julho – R. Álvaro de Carvalho, 427 – Bela Vista, São Paulo

Programação:

9h30-11h | Visita à Ocupação 9 de Julho

11h30-13h | Mesa Redonda: Estratégias dos movimentos sociais diante de um mundo em crise
Moderador: Tomaz Amorim (Mecila)
Douglas Belchior (Uneafro Brasil, Frente Negra por Direitos)
Cleber Ribeiro (Uniperiferias)
Jarê Pinagé (Engajamundo)

14h30-16h | Painel: “Desenvolvimento” e Justiça Climática em disputa
Moderator: Sérgio Costa (Freie Universität Berlin, Mecila)
Marco Teixeira (Mecila Urban Narratives Fellow)
“Narrativas de Transição Justa no Contexto da COP30: Perspectivas ativistas”
Diante do aprofundamento da crise ecológica – especialmente a crise climática –, os debates políticos e acadêmicos sobre as transições justas ganharam um impulso significativo. A necessidade de promover transições tornou-se parte de um discurso hegemônico, nas esferas social, política, econômica e ambiental, promovido por uma ampla gama de atores, incluindo movimentos sociais, organizações da sociedade civil, corporações, Estados e instituições internacionais. Mas o que realmente significa «transição justa» quando é invocada por um conjunto tão diversificado de atores? Esta apresentação explora essa questão central, investigando os significados atribuídos à transição justa por diferentes atores que operam em escalas variadas e em diversos contextos atualmente. O foco central será entender as narrativas ativistas sobre a transição justa, particularmente aquelas articuladas durante os eventos simultâneos da Cúpula dos Povos e da COP30 em Belém, Brasil. Além disso, a apresentação irá analisar como essas narrativas ativistas se relacionam com — e potencialmente desafiam ou reformulam — os entendimentos mais institucionalizados da transição justa. Ao destacar o potencial transformador das perspectivas ativistas, este trabalho visa contribuir para os debates acadêmicos e políticos, enfatizando seu papel na reimaginação de futuros conviviais em tempos de crise climática.

Igor de Sousa (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mecila Junior Fellow)
«Raça e Desenvolvimento Econômico: Mapeando a Anti-Negritude em Intervenções Planejadas com Base na Economia do Babaçu no Maranhão, Brasil»
Este projeto tem como objetivo analisar como as associações entre desenvolvimento econômico e anti-Negritude estão relacionadas às intervenções planejadas relativas à economia do babaçu entre 1920 e 1980 no Maranhão, Brasil. Através da discussão sobre a economia do babaçu, é possível mapear diferentes agentes e intervenções públicas, com ênfase nas transações econômicas e elaborações técnico-políticas que vinculam o desenvolvimento econômico ao pertencimento racial de indivíduos e comunidades, apontando para a inseparabilidade da negritude e da indignidade no mundo rural. Para tanto, será necessário analisar um conjunto disperso de intervenções políticas e discursos em instituições públicas e privadas nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e São Luís: palestras, comunicados, projetos de intervenção e relatórios de diversas instituições, como a Associação Comercial do Maranhão, a Fundação Getúlio Vargas, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, além de elaborações de outros agentes de destaque.

Isadora Cardoso (Freie Universität Berlin, Mecila Advanced Doctoral Researcher)
«Relacionalidade na Pesquisa-Ação sobre Justiça Climática»
Neste painel, discuto parte da minha tese de doutorado em andamento, na qual interpreto ações e discursos sobre justiça climática que eu presenciei e vivenciei, com base nas estruturas cúmplices da interseccionalidade e da decolonialidade. A matriz de dominação, proposta pelas feministas negras e acadêmicas da interseccionalidade (Collins, 2000), e a matriz moderna/colonial de poder, proposta pela escola da Modernidade/Colonialidade (Quijano, 2000), são estruturas fundadas na complexidade. Elas nos ajudam a compreender como as corporeidades são codificadas, de forma complexa e contextual, em privilégios e opressões relacionados e em desigualdades e injustiças co-constituídas. Além de discutir essa perspectiva relacional que os enquadramentos decoloniais e interseccionais engendram em meu projeto, enfatizo a relacionalidade como um elemento crucial na ética da minha pesquisa. Ao utilizar a autoetnografia como uma prática decolonial de me escrever na grade das “estruturas históricas coloniais” (Chawla & Atay, 2018, p. 3), pratico uma responsabilidade com as pessoas e os territórios com os quais colaborei – como ativistas, coletivos e comunidades quilombolas no Brasil, África do Sul e Alemanha. Ao refletir sobre minhas posicionalidades flexíveis, semelhantes às de Nepantla (Anzaldúa, 2015), por meio de meus encontros de pesquisa, continuo expondo e buscando abolir a ordenação e hierarquização binárias, coloniais e delimitadas de nossos mundos. A ética relacional desempenha um papel central em minha dissertação, por exemplo, quando meus colaboradores de pesquisa e eu co-criamos oficinas nas quais abordamos a justiça climática como tema, respeitando nossas necessidades corporais, a dignidade e os territórios em que estamos durante os encontros. Refletindo, assim, sobre como a luta pela justiça climática está intrinsecamente conectada às maneiras como habitamos o mundo (Ferdinand, 2021). Essa ética relacional exige que coloquemos no centro o cuidado e o respeito pelas nossas comunidades (ancestrais), espécies irmãs, territórios, espíritos — manifestados em formas materiais e imateriais —, e que cultivemos uma co-existência interdependente entre todos nós; isso é uma condição necessária para a justiça climática, apesar da arrogância das elites e dos Impérios e da devastação sem precedentes das formas de vida que estamos testemunhando.

16h30-18h | Conferência: Desigualdades digitais em Abya Yala
Fernanda Rosa (Virginia Polytechnic Institute and State University)
Moderador: Christoph Müller (Ibero-Amerikanisches Institut, Mecila)
A palestra versará sobre a pesquisa realizada sobre o Sul global, a infraestrutura e a governança da internet no cenário internacional e a justiça social. O trabalho de Rosa concentra-se nos contextos indígena e latino-americano para problematizar as desigualdades no desenho da infraestrutura da internet e os valores incorporados no código que molda a forma como os dados do Sul global circulam online. Ela explicará os resultados da aplicação de um método que ela define como etnografia do código, com o objetivo de revelar as implicações do código e da infraestrutura na vida das pessoas. Sua apresentação será baseada em pesquisas etnográficas realizadas em locais como Brasil, Alemanha, México e nos territórios autônomos de Tseltal e Zapoteco.
Biografia: Fernanda R. Rosa é professora assistente de Estudos de Ciência e Tecnologia na Virginia Polytechnic Institute and State University, uma universidade pública localizada nas terras dos povos Tutelo e Monacan. Seu trabalho atual concentra-se na governança e no desenho da internet a partir de uma perspectiva decolonial e do Sul Global. Em seu segundo e atual projeto de livro, em contrato com a MIT Press, ela propõe um novo método definido como etnografia do código, que se vale de estudos decoloniais, feministas e de ciência e tecnologia para esclarecer as desigualdades incorporadas na infraestrutura e nos protocolos da internet que moldam a forma como nossos dados circulam online, incluindo os dados dos Povos Indígenas na América Latina. Fernanda também é fundadora da Abya Yala Pluriversity, uma iniciativa composta por uma rede de universidades, incluindo universidades indígenas em Abya Yala (as Américas), que visa combater o apagamento epistêmico das populações e dos saberes tradicionais dos povos Indígenas, Negros e Quilombolas. O trabalho de Fernanda foi reconhecido e premiado por organizações como a seção de Ciência, Conhecimento e Tecnologia da American Sociological Association, a National Endowment for the Humanities (NEH) e a Social Science Research Council (SSRC). A Dra. Fernanda Rosa é doutora em Comunicação (American University), mestre em Políticas Públicas e Gestão (Fundação Getúlio Vargas) e bacharel e licenciada em Ciências Sociais (Universidade de São Paulo).