On 19 November 2020, João Alberto Silveira, a poor black man was being beaten to death by security guards in an establishment of the multinational Carrefour in Porto Alegre, Brazil. Come to be known as the “Carrefour Case”, this violent act filmed on the eve of Black Consciousness Day—a public holiday in five Brazilian states—had unparalleled public repercussion in Brazil and internationally. Black movement activists, academics, journalists held private security responsible for collaborating in the black genocide, alongside the Brazilian public security apparatus.

Invited by the dean of Zumbi dos Palmares University, the only black academy in Brazil, I researched and wrote a comprehensive study of the case in the context of the Movimento Ar (“Air Movement”), which honours George Floyd and the black population and in which I had been participating. In this talk, I will raise some disturbing questions that derive from the analysis published in the book Carrefour Case, Racism and Private Security, and from more than six years of research dedicated to private security in Brazil, particularly São Paulo.

I will show how one of the greatest difficulties in understanding the broader dynamics of racism is how security becomes concentrated and hyper-localized in racist acts. From the analysis of what I call the profitable industrial complex of private security in Brazil, I will conclude on how the security industries contribute not only to alimenting a chain of violent instances of racism, but also and above all to racializing cities and segmenting populations. Through a malignant twist, security furthermore keeps operating under the veil of attributing responsibility for structural racism to security guards, mostly themselves poor and black, whom the Brazilian security industrial complex holds captive in exploitative and voracious work regimes.

In Portuguese 

Configurando o racismo no Brasil. Desvendando os feitos da indústria de segurança

Dia 19 de Novembro de 2020, João Alberto Silveira, negro pobre, foi filmado sendo espancado até à morte por seguranças em um estabelecimento da multinacional Carrefour em Porto Alegre. O “Caso Carrefour” teve uma repercussão pública sem igual, no país e internacionalmente. Era a véspera do Dia da Consciência Negra, feriado oficial em cinco estados do Brasil. A segurança privada, não mais apenas a segurança pública brasileira, foi genericamente acusada por ativistas dos movimentos negros, acadêmicos, jornalistas de colaborar no genocídio negro.

Em regime de urgência, fui convidada pelo reitor da Universidade Zumbi dos Palmares para, no âmbito do “Movimento Ar”, em honra à memória de George Floyd e das populações negras, onde eu já participava, a pesquisar e escrever uma obra compreensível sobre o caso. Nesta apresentação gostaria de trazer algumas questões inquietantes que derivam da análise publicada no livro “Caso Carrefour, Racismo e Segurança Privada” e de mais de seis anos de estudos dedicados à segurança privada no Brasil (com enfoque em São Paulo).

Uma das maiores dificuldades para entender as dinâmicas amplas do racismo na segurança é sua concentração e hiper-localização no ato racista. A partir da análise do que chamo de complexo industrial lucrativo da segurança privada no Brasil, pretendo demonstrar como a segurança contribui não só para proporcionar episódios de racismo, mas também e sobretudo para racializar as cidades e segmentar populações. Ao mesmo tempo, isso é feito frequentemente atribuindo as responsabilidades pelo racismo estrutural a profissionais da segurança na ponta, a maioria pobres pretos, que o complexo industrial da segurança brasileira mantém em regimes de trabalho saturantes e vorazes.