Mecila

#29 – Uma visita ao Museu das Culturas Indígenas de São Paulo

Uma visita ao Museu das Culturas Indígenas de São Paulo: Lembranças, ecos y reflexiones polifónicas

Global Convivial Forum 

Flávia Meireles, Berit Callsen, Mariana Simoni
(Mecila Thematic Research Group 2023)
Passamos uma tarde sendo guiadas/os pelas mestras/es dos saberes e educadores, que nos apresentaram quem faz e como funciona o MCI, visitando suas exposições atuais e sensibilizando-nos sobre os modos de conhecer/viver indígenas que dão vida aquele espaço.

 

Um lugar físico para a Transformação. Inscrever essa Transformação escrevendo-a na faixa pendurada em uma construção de concreto, mas com isso também deslocá-la, impedir sua rigidez, insinuando que ela pode ocorrer em qualquer ponto daquele espaço limitado – demarcado – do Museu das Culturas Indígenas (MCI) convertido em “Tava” – Casa de Transformação.

Em nossa primeira visita cultural, no dia 22 de junho de 2023, e integrando o grupo de todos os Junior e Senior Fellows do Mecila, nós – Flavia Meireles, Berit Callsen e Mariana Simoni, agrupadas como Thematic Research Group –, estivemos no Museu das Culturas Indígenas, prédio vizinho ao Parque Água Branca, na cidade de São Paulo. Importante mencionar que tal visita estava dentro de uma programação mais extensa, com organização de Roberta Hesse, da short-term visit do intelectual equatoriano do povo Palta Ángel Ramírez, vice-reitor de Pesquisa e Extensão da Universidad Intercultural de las Nacionalidades y Pueblos Indígenas Amawtay Wasi (UINPIAW), em Quito (Equador). Ramírez estava conosco nesta visita como uma das diversas atividades que pudemos fazer juntos durante as duas semanas de sua estadia em São Paulo.

O MCI é, sob a perspectiva originária, chamado de Tava, ou Casa de Transformação, como contaram Cristine Takuá e Carlos Papá, dois dos gestores do Museu, em outra ocasião. Passamos essa tarde sendo guiadas/os pelas mestras/es dos saberes e educadores, que nos apresentaram quem faz e como funciona o MCI, visitando suas exposições atuais e sensibilizando-nos sobre os modos de conhecer/viver indígenas que dão vida aquele espaço.

Vale destacar que a gestão do MCI – que no último dia 29 de junho completou um ano de abertura –, é fruto da conquista dos movimentos indígenas (representados pelo Conselho Indígena Aty Mirim) de fomentar, na cidade de São Paulo, o direito ao território e à educação diferenciada através de uma gestão co-indígena. O MCI é, simultaneamente, lugar de acolhimento para indígenas e meio de educação para não-indígenas sobre – e, principalmente, com – os diferentes povos e cosmologias de Aby Ayala. Essa gestão é sediada em equipamento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, sob administração compartilhada entre o Instituto Maracá e a ACAM Portinari.

A visita começou com uma grande roda de boas-vindas na parte externa do MCI, em meio às intervenções artísticas nos muros e fachadas do prédio, que já nos envolviam com artes, imagens e grafismos de diversas etnias, dando cor, tom e destaque aos saberes indígenas espraiados por toda parte do imóvel, tornado ninho, refúgio e lugar de trocas indígenas. Também tivemos contato com artesanatos vendidos por indígenas que vêm de muitos territórios e têm no MCI um ponto de apoio para suas vendas.

Adentramos o prédio até o sétimo andar, local onde começou a visita guiada. Fomos descendo os andares e nos deparando com diferentes salas e exposições, que eram ativadas pelos mestres/as dos saberes, enriquecendo nossa experiência sensorial, cognitiva e cosmológica sobre as etnias.

A enorme cobra – cobra grande – localizada nesta sala multiuso, sobre a qual as pessoas visitantes eram convidadas a sentar, além de evocar a imagem da transformação em muitas cosmologias indígenas também provocavam de forma muito concreta a mudança da percepção das visitantes, porque as impelia, ainda que brevemente, a se relacionar com o próprio corpo de maneira diferente.

Ygapó terra firme

“Ygapó, do Tupi Antigo ‘Raízes d´Água’, é um ecossistema formado nas mais antigas regiões geológicas da terra, proveniente de milhões de anos para que a flora resistente pudesse enfrentar as condições de contínuas mudanças e um terreno pobre em nutrientes. […] Ygapó terra firme é a metáfora da resistência indígena, que mesmo em constante ameaça externa vem pela coletividade e compartilhamento de saberes tornar possível o vislumbre de uma futura existência.”

Estas frases se retoman del texto explicativo en la entrada de la segunda sala del museo que alberga una exposición del artista y curador Denilson Baniwa. Al entrar en este espacio llama la atención la oscuridad en él. Las paredes son negras, en ellas relucen escrituras, palabras e imágenes escritas y dibujadas con tiza en diferentes lenguas indígenas y en portugués – noticias, reacciones e impresiones dejadas por los visitantes que son iluminadas por pequeñas lámparas.

La mayor fuente de luz proviene de una pantalla grande en el fondo de la sala, en la que se proyectan diferentes vídeoclips de grupos musicales apropiándose de la cultura pop. Al acercarse a la pantalla, se nota una cuenca con agua en el suelo. El agua no está quieta, sino que se mueve debido a un aporte. Esta es la sala del Ygapó. La superficie líquida y dinámica refleja las imágenes de la pantalla, las multiplica, invierte y modifica. Además, el agua transporta el sonido a su profundidad; se vuelve tanto espejo coalescente como espacio de resonancia haciendo que la sala entera devenga en un ecosistema resistente.

El grupo de rap Oz Guarani canta:

“[…] O índio é forte e sobrevive jogado à própria sorte
O índio é forte e sobrevive jogado à própria sorte                                                             
Como pode, sem terra pra morar, sem rio para pescar
O Juruá [não indígena] desmata a mata e mata os M´bya [indígenas]
Mas Wera MC e Oz Guarani
Não cansa de lutar, e seguiremos assim até a morte
O índio é forte […]”

museu das culturas indígenas
museu das culturas indígenas 2
Créditos das imagens: Flávia Meireles

Los/as visitantes-espectadores están buscando su lugar en este espacio del que ya forman parte. Convivir en la diferencia, compartir espacio – en su libro Ideias para adiar o fim do mundo Ailton Krenak lo llama “fricção”, esto es “ser capaz de atrair uns aos outros pelas nossas diferenças, que derivam guiar o nosso roteiro de vida” (Krenak 2020: 33).

La sala del Ygapó cultiva raíces de agua, apela a la capacidad de la convivialidad, invita al diálogo, recordando y haciendo escuchar voces resistentes. En este espacio performativo, las paredes, la pantalla y el agua devienen dispositivos intermédiales de la polifonía.

Pero es el agua como dispositivo fluyente y movido que desprende una mayor dinámica material y una heterogeneidad semántica en este contexto. Así, la cuenca funge no solamente como espejo líquido de la pantalla, sino que, en relación de sinécdoque, puede hacer referencia al acuífero Guarani, una de las más grandes reservas subterráneas de agua dulce del planeta. Localizado en gran parte del territorio brasileiro, el acuífero es amenazado, constantemente, por la acción humana que conduce a la polución del suelo, a la contaminación y a la modificación de la vegetación nativa de la zona. Así, el agua en la sala del Ygapó no solo refleja el canto resistente, sino que lo incorpora y lo adquiere en un gesto de solidaridad existencial. Es este canto líquido que por medio de su materialidad fluida sabe irritar y subvertir también esquemas binarios. La liqui-dación de relaciones dicotómicas como las entre sujeto-objeto, hombre-naturaleza y agua-tierra puede ser uno de sus efectos epistémicos.

No andar seguinte chegamos, sempre guiados pelos mestres/as, a uma sala cujas paredes e teto eram cobertas de barro, dando uma coloração ocre ou de terra vermelha, sob uma penumbra e o chão coberto com ervas e folhas secas, de diferentes odores, perfumando nossa entrada e narinas. A sala, numa primeira vista, parecia um abrigo na floresta. Este espaço também faz parte da exposição “Ygapó – Terra Firme”, do artista Denilson Baniwa e traz para a Tava parte da floresta, dando relevo, cor, dimensão, escuta e olfato à experiência imersiva.

Museu das culturas indígenas 3
Créditos da imagem: Flávia Meireles

Houve convite para que ficássemos descalços, podendo sentir a textura e o barulho das ervas e folhas secas espalhadas pelo chão, como se entrássemos na mata ou numa casa na floresta, com diferentes cheiros e sons. As solas dos nossos pés eram, então, estimuladas por diferentes texturas e sons estalavam do contato delas com as folhas, anunciando por onde íamos e criando uma ambientação sonora coletiva, já que éramos muitos pés descalços na mesma sala. Isso trazia uma espacialização do som e nos dava pistas de por onde nossos colegas iam pelo espaço, produzindo música com os passos nesse ambiente mata-casa-núcleo expositivo. No centro da sala, parte em penumbra, parte visto, um tronco espesso de árvore estava deitado no chão, sugerindo que o utilizássemos como banco, como parceiro de apoio para nossos corpos, como lugar de descanso. Depois de um tempo circulando pelo espaço, numa coreografia sonora, nos sentamos no tronco ou ao redor dele para ouvir as histórias e causos de Natalício, indígena da etnia Guarani Mbya, morador da Terra Indígena (TI) do Jaraguá.

foto 4
Créditos da imagem: Flávia Meireles

Transformação no espaço e nos corpos

Nesta casa o fora e o dentro se integram de maneira tão orgânica que por um momento esta distinção parece ficar em suspenso. Por exemplo: “IMAKÃ UG KUHUKÊ” [“Mãe e filha, abrigo para os sonhos em tempos difíceis”], o mural com a imagem de uma mãe e uma bebê onça, da artista pataxó Tamikuã Txihi, que se encontra no pátio do Museu. Aqui a diferença de tamanho entre ambos os animais, mas também a própria posição de seu olhar recíproco – a mãe olha para baixo e a filha olha para cima – já remetem à transformação: o que chama atenção neste mural, além desta simples troca de olhares entre uma onça grande e uma pequena, é o toque entre elas, mais especificamente a ausência de espaço vazio entre seus corpos, que só ocorre no espaço verde entre as pernas dianteiras da onça-mãe. A contiguidade dos desenhos sugere uma continuidade na própria imaginação de quem olha, que automaticamente completa o corpo da onça filhote. Essa integração visual opera destruindo a ideia de tempo que situa a mãe no futuro, uma vez que o corpo da filha de fato não existe autônoma e materialmente sem o corpo da mãe. Ao mesmo tempo, quem olha precisa do corpo da filha para imaginar que o corpo da mãe se encontra no plano de trás, superposto por ele. Em outras palavras: aqui temos uma transformação que se configura simultaneamente no presente, no passado e no futuro. Que se faz ver no espaço. E nos corpos.

Muito mais do que um continente que abarca um conteúdo, um acervo de objetos, este museu parece operar como uma moldura que, antes de mais nada, afirma e inscreve performativamente seu direito de existir na geografia da cidade. Cristine Takuá afirma que o MCI não tem somente acervos, mas sim, pessoas, ressaltando o caráter dinâmico desse espaço como Tava que, a partir da lógica transitória da transformação, se abre para as culturas indígenas em constante movimento, afirmando, portanto, sua própria vida e atualidade.

foto 5
Créditos da imagem: Flávia Meireles

Krenak, Ailton (2020): Ideias para adiar o fim do mundo, São Paulo: Companhia das Letras.

#28 – The Tip of Mecila’s Iceberg: Collective Testimonial

Global Convivial Forum 

Jörg Dünne, Vanessa Massuchetto, Joanna Moszczynska, Jessica O’Leary,
Raphael Schapira, Simone Toji, Ana Carolina Torquato, Daniela Vicherat Mattar (Fellows 2022)
 

En este texto the fellows 2022 queremos describir en parte nuestra experiencia en Mecila. Hemos armado un texto usando como inspiración na idea surrealista del “cadavre exquis”. Todas y todos contibuimos con un párrafo en cada una de las secciones que articulan el texto, and we did it in the different languages we spoke during out fellowship. Finalmente, decidimos manter a autoria coletiva, como um reflexo de nossa experiência como fellows.

Locating Mecila

Visto desde el patio del Cebrap en Vila Mariana, Mecila parece bien übersichtlich (easy to be grasped at one glance): en la parte de atrás trabajan la mayoría de los fellows, en la parte de delante el staff del Mecila y en medio hay el bar donde todos se encuentran. Mas não é assim tão simples: Prussian bureaucracy rules
also in Brazil, directors from Cologne falam portunhol (pode ser Pedro), y los libros del Iberoamerikanisches Institut no pasan por la aduana brasileña. At the Annual Meeting in October, the hidden part of the Mecila iceberg finally appears…
 
Arriving at Mecila, I was very excited and curious about what 2022 was going to be like. All my expectations were surpassed not only because of the high academic level of all studies we debated, but mostly because of the people. The principal and associated investigators, the people from the coordination office, the Ph.D. students, and, of course, our group of fellows amazed me on a daily basis with a very very kind conviviality.
 
Entonces, yo puedo decir que el ambiente de trabajo de Mecila es tan agradable como el de la casa de Cebrap. Personas muy maravillosas, construcción de relaciones sinceras y trato siempre muy humanizado entre todos, me he sentido realmente querida y respectada. Toda esta experiencia la llevaré para siempre en lo más profundo de mi corazón.
 
Não esperava encontrar um grupo de fellows e uma comunidade tão generosa quando eu embarquei para o Brasil pela primeira vez faz dois anos. Para ser sincera, tinha um pouco de medo sobre minha recepção por ter chegado tão tarde. Porém, fui recebida with open arms and open minds. Tanto minhas metodologias de pesquisa quanto minhas redes de colegas se desenvolveram graças à oportunidade cedida pelo Mecila. Fico muito feliz quando penso sobre meu tempo como Junior Fellow e sobre as colaborações e trabalhos coletivos que o futuro trará.
 
Há una mesa at Cebrap. E uma sala de trabalho en USP. Um auditório no Cebrap. A meeting room at USP. Hay el espacio vivo de la cafeteria en Cebrap. E os corredores vazios de la USP. Livros para consultar online pelo site do
Iberoamerikanisches Institut. Books to handle physically at the Instituto de Estudos Brasileiros. There is the coordination office in São Paulo. Y el staff remoto desde Cologne y Berlin. Há doctorandos, Junior and Senior Fellows, los pesquisadores principais e associados. Também os distinguished lecturers e las equipas temáticas. Isso é um pouquinho de Mecila. Isso é um pouquinho de São Paulo. E um tantão de generosity, rigor, criatividad, hospitalidade, friendship e, why not?, convivialidad.

collective testimonial
Mecila Archive/Photo by Marina Belisario
São Paulo – Sampa – SP – a city that seems infinite. I came here searching for space to think about my research (and life) differently. SP gave me that. Was it intimidating? Of course! Was it worth it? Even more! Mecila sits well in this city: it is a centre that offers a space to think and dissent with . As an intellectual space Mecila values and encourages different approaches, methodologies, disciplines, life trajectories, languages and projects. This implies there is some level of chaos: a bit is avoidable improving logistics, most of it is the necessary messiness to keep the space open to different engagements. Vamos lá!
 
Coming to São Paulo for work and going to Rio de Janeiro several times for fieldwork has been a personal and professional experience that has enriched me profoundly. The people I met and exchanged experiences with were extremely generous in sharing their time with me, which makes me very grateful for having had the chance to come to Brazil as a Mecila Junior Fellow. However, this experience came at the cost of being away from my family for too long. What felt like a privilege initially became a difficult obligation over the long run. Maybe, the hybrid modes of combining working online and offline developed during the pandemic could help us create more family-friendly models of academic fellowships.
 
Encontros e reencontros: o Mecila foi lugar de convivialidades em diferentes níveis. A casa linda do Cebrap, a ilha verde de Vila Mariana, as árvores longevas e o prédio moderno da USP, a parede infinita de livros do IEB, la Universidad de La Plata… So much space filled with tanta gente boa! O Mecila foi um processo de descoberta constante, aos poucos a imensidão da rede de pesquisadores foi se revelando mais nítida. Acá se puede ver todo: un microcosmos del mundo contemporáneo. Saudade. Nostalgia. Sehnsucht.
 
Although my stay at Mecila in SP lasted only six months and I was not able to participate in the annual meeting, I feel I am an integral part of this one-of-a-kind convivial constellation that we have created. But there is also my personal story entangled within, that will stay with me for my whole life. Between colloquia and
doctors appointments, research and unpredicted need for a nap, commuting to Cebrap and an overwhelming wave of nausea, an uncontrollable urge to enjoy uma coxinha and having to find comfort in torrada, we made it through! Me and my Polish-Brazilian-Berliner-Mecilan baby Junior Fellow. Thank you, dear Mecila colleagues and friends, for all the support, to make my last three months in São Paulo not any less enjoyable!
 

São Paulo como laboratório da convivialidade e desigualdade

Ser parte de Mecila comienza antes de llegar a São Paulo, once there, es como formar parte de una comunidad en constante proceso de reproducción: intelectual, política, afectiva. Hay muchas formas en las que la comunidad se materializa día a día: el café en el Cebrap, la búsqueda de lugares nuevos para almorzar, ir a tomar unas cervezas o cachacinhas por ahí, compartir el gusto por descubrir comidas nuevas (desde el Amazonas a Taiwan!) y tantos, pero tantos, eventos culturales y artísticos que nutren y dan forma a esta experiencia individual, y también colectiva, de formar parte de Mecila.
 
São Paulo é um laboratório da convivialidade e desigualdade. Devido à pandemia, o número de indivíduos sem abrigo e consumidores de substâncias tóxicas aumentou, assim como a desigualdade social. E é impossível fazer vista grossa a essa situação de precariedade. O significado da convivialidade em nossos projetos teve que ser confrontada com o espaço por nós vivido, compartilhado; com os contrastes drásticos da vida urbana em uma metrópole de 20 milhões de habitantes. Também o significado da consciência da classe social tornou-se urgente a repensar, tendo em vista o êxito do presidente Lula em eleições recentes em outubro de 2022. Tem esperança? Tem sim. Eu nunca esquecerei o dia em que vi um jovem homem em condição de rua perto da Praça da República sentado no chão e lendo Durkheim.
 
As I am crossing the bridge from Vila Mariana to the Ibirapuera Park, I follow the gigantic letters written on it: “BRASIL TERRA INDÍGENA”. Watching the impressive ebb and flow of cars below, I ponder how the missing verb gives the phrase a timeless and undefined character. As I look at the obelisk in the distance, I am reminded how I witnessed to its feet an impressive motorcycle caravan celebrating an elderly, unhealthy looking man wanting to get re-elected. It was loud, stinky, and full of exhilarated men. Given the martyr-related inscriptions on the Obelisk, it seemed only consequential for the rally to end there: fascism loves death. If democracy wants to survive, it must learn to love life, disconnect itself from the logic of hypermasculinity and extractivism, and protect the protectors of the land. BRASIL É TERRA INDÍGENA.
 
La comunidad Mecila is an ever-evolving being, com múltiplas estruturas e variadas formas de encuentro. Between the virtual and the face-to-face, hay muchas posibilidades de contato e trocas. Una se va haciendo como miembro de Mecila in participating in the online meetings of the Research Areas o los encuentros presenciales del General Colloquium y el Annual Meeting, como también interaccionando con os working papers, podcasts, assim como os textos do blog ou the Glossary video series. There are many ways to engage with esta grande rede, que no se agota con la estadia temporária en Sāo Paulo. Pero la estadia is a discovery adventure em si mesma…
 
Most of us were living in a semi-touristic environment, moving like urban nomads from one temporary residence to another, escaping from noisy construction sites in the neighborhood and looking for places that weren’t too cold and neither too gray during the long and rainy winter days of São Paulo. But since not so many tourists stay here for more than a few days, when I had successfully acquired my CPF number, my RNM and my bilhete único, I considered myself entitled to share the city “locally” with its other residents through the weak, but persistent ties of its daily infrastructures.
 
São Paulo is not a very popular city among Brazilians. Most Brazilians, whether paulistano or otherwise, tell me that São Paulo é uma cidade difícil. When I lived here for the first time in 2018, I did not share that experience. But this time I definitely had my moments of frustration with the city – the traffic, the pace, the bureaucracy. Even so, I have a certain fondness for its skyscrapers, its street art, its chaos. I feel more connected to locals having a complicated relationship with SP, and will miss its charms once I’m gone.
 
collaborative testimonial
Mecila Archive/Photo by Marina Belisario
The constant noise and the overwhelming urban landscape are some of my issues with the city. I feel like I cannot remember what silence is anymore. São Paulo definitely has a way of making itself present in your body and mind. However, having the experience of living in one of the largest cities in South America has taught me much about living together, convivialidade, about Brazil, and about myself. It’s been a remarkable experience which I’ll certainly never forget.
 
Confesso que eu tinha na cabeça vários estereótipos desta cidade antes de estar nela por nove meses. Em anos anteriores, eu havia passado por ali apenas uns poucos dias e sempre sem entrar no mesmo fluxo dos citadinos. Algumas visitas turísticas aqui e ali, conhecer a Pinacoteca e o Teatro Municipal, passear no Viaduto do Chá e entrar no Largo São Francisco haviam sido algumas das minhas atividades quando estive por aí. Desta vez, nenhum daqueles meus estereótipos acabou sendo a São Paulo que encontrei. Seja por ter acompanhado a bateria feminista do PSOL em um domingo pré-eleições pela Avenida Paulista, seja por conviver com a politização às vistas nos espaços urbanos, seja pelas culinárias diversas que tive oportunidade de provar, São Paulo, por fim, surpreendeu-me. Fecho este momento da vida tendo sido muito feliz aqui. E, então, eis que o maior centro urbano da Capitania da qual também faço parte deixará marcas muito nostálgicas em minha vivência.

Pensando en conjunto

A space to meet and practice conviviality by discussing theory, methodology y otras cositas más. Un momento para compartir el trabajo de investigación en curso y recibir aportes de investigadores das mais variadas experiências e disciplinas. Um ambiente generoso no qual a apreciação e a crítica são exercidas de modo construtivo and insightful. A commitment para encontrarse periodicamente y conocer mais a fundo o trabalho de colegas fellows e doutorandos.
 
Esse lugar comum – que é bastante incomum – funciona como um oásis de saberes, cercado por plantas de várias espécies de animais e vegetais. Um mar de respiro em meio à paisagem gris paulistana; onde se encontra o silêncio dentre a poluição sonora de construções que nunca parecem cessar de modificar a paisagem. Eine Kaffeepause… y ya está! Escrever e pensar colaborativamente ficou mais fácil aqui.
 
Qual seria a receita para um trabalho convivial de escrita e pensamento? Almost fifty years ago Ryszard Kapuscinski upon his visit to Chile during the Cold War wrote:

I spent a long time forcing my way through that underbrush, the exuberance, the façades and the repetitions, the ornamentation and the demagogy, before I reached the person, before I could feel at home among these people and recognize their dramas, their defeats, moods, romanticism, their honour and treason, their loneliness.
(The Soccer War, 1992)

Conviviality in this sense, could be understood as a discipline of sensibility and integrity, intellectual and emotional. It seems that during our time in SP, we have managed to combined both.
 
It is rare indeed to share space, physically and intellectually, with such a group of generous scholars and thinkers in a city like São Paulo. Our casinha branca in Vila Mariana functioned like an oasis, with its greenery and quiet away from the hustle and bustle of the city, while our pilgrimages to USP reminded us of the special academic setting in which we found ourselves. Conviviality is often marked by inequality, as our studies and conversations often suggest, but my experience of Mecila conviviality has been one of few tensions and fewer
inequalities and, instead, one of rich opportunities for growth and friendship.
 
Esse embodiment das convivialidades nos trouxe o que de melhor a academia pode proporcionar. É como havermos vivido na prática alguns dos temas que se intercruzam com as nossas pesquisas sempre em termos muito positivos. O crescimento que tivemos não apenas nos momentos dos eventos acadêmicos como os
General Colloquium e o Annual Meeting, bem como nos contatos diários com os colegas de trabalho irão nos acompanhar para sempre em um local de profundo carinho em nossos corações. Saímos desta experiência com a felicidade que o partilhar a vida e o trabalho com pessoas incríveis nos trouxe.
 
How to feel at home when being uprooted? Uno de los costos de migrar (biográficamente, y también intelectualmente) es que a veces es difícil encontrar certezas. Es especial encontrar un grupo humano académico con la generosidad y el rigor suficientes como para ofrecer certezas en la crítica. Es difícil encontrar un espacio abierto que contenga y abrigue como el Cebrap (y la USP). Es muy gratificante haber sido parte de este proyecto, con sus dificultades y muchas virtudes, especialmente la de seguir preguntándose sobre la posibilidad de vivir juntes en un mundo, y una América Latina, desigual.

Un seminario es un laboratorio común que permite a cada uno de los
participantes articular sus prácticas y sus propios conocimientos. […] [L]os
efectos de producción discursiva que engendra no son más que
tangenciales en relación con la riqueza proliferante y silenciosa de los
viajeros que se detienen un rato en la estación.

(Michel de Certeau, “¿Qué es un seminario?”, 1978)

We cannot escape the effects of power: Who speaks and moves when, where, and how? Where are people located in space? How is space structured, and which forms of associating does it facilitate? Who is present, and who is not? Of course, there is no (academic) space free of these questions, but working in a Mecila environment in which these form part of the researchers’ agenda also influences how people relate to each other. Maybe this is why Mecila fosters such a supportive research community, and it would be only consequential to invite more (organic) intellectuals from disadvantaged socio-economic backgrounds into it to yield new perspectives on the conviviality-inequality nexus.

Mecila/ DALL.E

#27

From South-South Epistemologies to the Reflection on South-East Relations: putting on a decolonial lens

Global Convivial Forum 

Joanna M. Moszczynska (Junior Fellow Mecila)

Mecila/ DALL.E

Global entanglements, Souths within the North included, read through a decolonial lens, provide interesting impulses for transregional studies, such as those dealing with relations between Latin America and Eastern Europe.

 

With the concept of the Global South, a desire emerged to make visible the literary and cultural communication between different geo-cultural peripheries since the end of the nineteenth century. South-South entanglements have been subject to research in critical thought and theory, historical relations, and the study of non-hegemonic and heterodox knowledge production. The Global in the Global South, as observes Sinah Kloß, underlines that “the concept should not be understood as merely geographical classification of the world, but as a reference attending to unequal global power relations, imperialism, and neo-colonialism” (Kloß 2017: 4).

However, the concept has met criticism from scholars who see the Global South as part of the imperial and Eurocentric binaries of East-West and North-South (Levander and Mignolo 2011: 9). From this perspective, the Global South indicates a “conservative return to the older ‘classical’ geopolitical and civilisation models”, neglecting regions and countries that do not neatly fit into either category (Tlostanova 2011: 69). To critically engage with the North/South differentiation, immanent to the concept of the Global South, Tlostanova proposes that we pay particular attention to those areas and places that cannot be easily identified as either North or South but are in between, such as post-Soviet and Eastern European post-socialist states (Tlostanova 2011: 69). Global entanglements, Souths within the North included, read through a decolonial lens, provide interesting impulses for transregional studies; for example, those that deal with relations between Latin America and Eastern Europe. Just like “South”, the notion of “East” carries a series of epistemological challenges that both comparative and transregional research can profit from.

Latin America (and the Caribbean) and Eastern Europe are two geopolitical areas that have been under economic, cultural, political as well as military pressure from the imperial powers, with whom they had to negotiate their national projects and visions of the future. The stigma of the (semi-) periphery bound by the postcolonial and post-socialist consciousness and the contested ideas of “the invention of the region”, in Anderson’s terms, that are found in the discourses from and about those regions show how the experience of oppression, marginalisation, and dependency have been crucial for the political and cultural (self-)understanding of those two parts of the world. Bringing together the scholarship on both regions, that is, Latin American Studies and Slavic Studies, should not limit itself to traditional comparative study but also allow searching for transregional and decolonial methodologies. What seems like a challenging task can nevertheless help better understand and map the entangled modern realities and representations of the regions, their spatial and temporal constellations and regimes, that is, their histories, cultures, institutions, trades, political transformations, migration processes, diasporas, negotiations of belonging, etc.

DALL·E 2022-12-06 16.17.39 - old fashioned map of latín america

 

Manuela Boatcă, for example, underlines the ontologically peripheral position of the “forgotten Europe”, one that “has been defined as Eastern Europe and is often still reduced to being an Other within” (Boatcă 2019: 96). The scholar further observes that “Eastern and Southern Europe are often considered lesser Europes and have to be specifically mentioned to be included” and proposes “creolisation of Europe”, that is, “the project […] contingent upon creolising social theory so as to re-inscribe the transnational experiences of regions othered as non-European and non-Western or racialised as non-white – such as the Caribbean – as well as the multiple entanglements between Europe and its colonies into sociological thought” (Boatcă 2019: 96; 108). Of course, “creolisation” does not have to limit itself just to the social sciences nor to “Europe”, but be a transdisciplinary and transregional project. A similar reflection on epistemic violence, yet committed against Latin America and the Caribbean, is provided by Ana Nenadović:

 

In its transition from colony to coloniser, the United States of America monopolised the name ‘America’. The linguistic exclusion of the peoples south of the US border lead to their othering and marginalisation. Donald Trump’s slogan ‘Make America great again’ is perhaps the most recognisable contemporary expression of this neo-colonial and racist monopolisation of the name. Trump’s ‘America’ is, without any doubt, white settler USA (Nenadović 2022).

 

The reflection on the use of language is part of a decolonising project, or, in the words of Madina Tlostanova and Walter Mignolo, a practice of “decolonial border thinking”. Decolonial border thinking enables displacing European modernity and empowers those who have been epistemically disempowered by the theo- and egopolitics of knowledge: “Decolonial border thinking” […] is grounded in the experiences of the colonies and subaltern empires. Consequently, it provides the epistemology that was denied by imperial expansion. […] It also moves away from the postcolonial toward the decolonial, shifting to the geo- and body politics of knowledge” (Tlostanova and Mignolo 2012: 60).

Border thinking emerges from the anti-imperial epistemic responses to the colonial difference, that is, the difference that hegemonic discourse endowed to “other people”. This somehow subaltern position turns into an advantage as it implies the awareness of the “double consciousness” (DuBois 2007), “which is not the case in the world of imperial difference that longs to belong to modernity’s sameness so much that it often erases its own difference” (Tlostanova and Mignolo 2012: 68). The imperial difference then comes in two modulations: external and internal. External is the difference between the Russian Czardom and later Russian Empire to Western empires, whereas internal imperial difference refers to the one among Western capitalist empires. The idea of the imperial difference can also be applied to the Cold War context of the struggle for domination between the US and the USSR, perceived as superpowers and distinct areas to be compared only from a modern and imperial epistemological assumption, each one having its own zones of influence, that is, spaces, that belong to the same universe.

Anita Starosta, in her book Form and Instability: Eastern Europe, Literature, Postimperial Difference, elaborates on the notion of postimperial difference as a more accurate account of the condition of Eastern Europe while rejecting the category of Eastern Europe as obsolete and inadequate, at least within the area of literary studies. According to Starosta, the idea of postimperial difference is related to the emergent and overlapping ways of thinking about the region – that is, post-socialism and post-colonialism. This articulation raises the question, “Is the post in post-imperial the post in postcolonial?”* or even, as David Chioni Moore puts it: “Is the Post in Post-Soviet the Post in Postcolonial?” (Moore 2001).

Tlostanova draws attention to the complexity of such questions when she warns against both conflating the post-Soviet with postcolonial discourses and excluding it from them, as this kind of operations either invisibilise the post-Soviet space or strips it of its agency. The solution could be brought by a decolonial method to address the post-Soviet imperial and colonial difference and the ontological othering the post-Soviet has been subject to within the modern system of knowledge. Russia is a paradigmatic case of a “Janus-faced racialized empire which feels itself a colony in the presence of the West and plays the part of a caricature civilizer mimicking European colonization models and missions in its own non-European colonies” (she refers here to Caucasus and Central Asia, but with regard to today’s situation we may think of Russia’s European ex-colonies) (Tlostanova 2015: 47).

The scholarship cited here raises many engaging and thought-provoking issues, although not always directly having both regions, Latin America and Eastern Europe, as a joint case study. They nevertheless engage with the concepts and ideas such as: creolisation, imperial and postimperial difference, colonial difference and post-colonialism, and knowledge production, and thus broaden our perspective and incentivise us to rethink and improve our methodologies and enable us to open for a better historical, geopolitical and cultural understanding of those regions and their states:

 

According to a rough consensus, the cultures of postcolonial lands are characterized by tensions between the desire for autonomy and a history of dependence, between the desire for autochthony and the fact of hybrid, part-colonial origin, between resistance and complicity, and between imitation (mimicry) and originality. Postcolonial peoples’ passion to escape from their once colonized situations paradoxically gives the ex-colonials disproportionate weight in the recently freed zones. And the danger of retrenchment, or of a neocolonial relation, is ever present (Moore 2001: 112). 

 

In February 2022, Russia invaded Ukraine, and many Latin American intellectuals have been reluctant to condemn Russia’s war crimes. Maybe putting on a decolonial lens on the gaze upon Eastern Europe could make the above-cited words of Chioni Moore effectively resonate among Latin American minds.

*It is a question inspired by Kwame Anthony Appiah (Appiah 1991).

Appiah, Kwame Anthony (1991): “Is the Post- in Postmodernism the Post- in Postcolonial?”, in: Critical Inquiry, 17, 2, 336–357. Boatcă

Manuela (2019): “Forgotten Europe: Rethinking regional entanglements from the Caribbean”, in: Cairo Carou, Heriberto and Breno M. Bringel (eds.), Critical Geopolitics and Regional (Re)configurations. Interregionalism and Transnationalism between Latin America and Europe. London: Routledge, 69–116.
 
Cairo Carou, Heriberto and Bringel, Breno M. (eds.) (2019): Critical Geopolitics and Regional (Re)configurations. Interregionalism and Transnationalism between Latin America and Europe. London: Routledge.
 
DuBois, W. E. B. (2007): The Souls of Black Folk, Oxford: Oxford University Press.
 
Kloß, Sinah Theres (2017): “The Global South as Subversive Practice: Challenges and Potentials of a Heuristic Concept”, in: The Global South, 11, 2, 1–17.
 
Levander, Caroline and Mignolo, Walter (2011): “The Global South and World Dis/Order”, in: The Global South, 5, 1, 1–11.
 
Moore, David Chioni (2001):  “Is the Post- in Postcolonial the Post- in Post-Soviet? Toward a Global Postcolonial Critique”, in: PMLA, 116, 1, 111–128.
 
Nenadović, Ana (2022): Rapping the Decolonisation of America – Rapear la decolonización de América, in: SOAS History Blog, May 24, 2022, at: blogs.soas.ac.uk.
 
Tlostanova, Madina (2011): “The South of the Poor North: Caucasus Subjectivity and the Complex of Secondary “Australism””, in: The Global South, 5, 1, 66–84.
 
Tlostanova, Madina (2015): “Can the Post-Soviet Think? On Coloniality of Knowledge, External Imperial and Double Colonial Difference”, in: Intersections, 1, 2.
 
Tlostanova, Madina and Mignolo, Walter (2012): Learning to Unlearn: Decolonial Reflections from Eurasia and the Americas , Columbus: Ohio State University Press.

#22

La Constitución y los dilemas de la convivialidad en un Chile desigual

Global Convivial Forum 

Daniela Vicherat Mattar (Leiden University College / Senior Fellow Mecila)

El borrador propuesto para una nueva Constitución implicaba un cambio en los regímenes de convivialidad del país, cambiar los términos en los cuales dicha convivialidad se fundamenta.

“Nosotras y nosotros, el pueblo de Chile, conformado por diversas naciones nos otorgamos libremente esta Constitución, acordada por un proceso participativo, paritario y democrático.”

(Epílogo de la propuesta para una nueva Constitución)

Y, sin embargo, no pasó. A través de uno de los plebiscitos más votados en la historia de Chile, más de 13 millones de personas rechazaron la propuesta para una nueva Constitución el septiembre pasado. En las semanas que han seguido a este evento electoral, en Chile y fuera de Chile, mucha gente se pregunta qué pasó: Cómo es posible que un país que votó abrumadoramente en octubre de 2020 por cambiar la Constitución a través de una asamblea constituyente (78 % del electorado aproximadamente), que eligió como representantes de esta asamblea en su mayoría a gente independiente en mayo de 2021, terminó rechazando el texto propuesto por dicha asamblea con un masivo 62 % del electorado en septiembre de 2022. ¿Qué cambió en este lapso de casi dos años, en que el país ha seguido un proceso de cuestionamiento constitucional que ha sido, por otra parte, impecable y legítimo en términos electorales?

Lo que no se discute tan abiertamente es que la comparación de estos dos momentos electorales –representados en la figura anterior– no es completamente correcta en términos metodológicos. Una gran diferencia marcó ambos momentos: el tipo de voto. En el caso del plebiscito de entrada (octubre de 2020), en el que se definía si era precisa una nueva Constitución y a través de qué mecanismo elaborarla, el voto fue voluntario. En dicha ocasión, de acuerdo con los datos del SERVEL, participaron poco más de 7,5 millones de personas, aproximadamente la mitad del padrón electoral. En cambio, dos años después, en el plebiscito de salida (septiembre de 2022) el voto fue obligatorio, y lo ejercieron más de 13 millones de personas, o sea, más del 87 % del padrón electoral. Cerca de 5 millones de personas que no se habían manifestado electoralmente con anterioridad lo hicieron en el plebiscito de salida, y definieron contundentemente el resultado de la elección.[1]

El problema metodológico de comparar ambos momentos electorales es también un problema político y de legitimidad. Es evidente que en una democracia liberal como la chilena la decisión sobre el texto constitucional concierne a quienes conforman esta particular comunidad política. Sin embargo, los contornos de dicha comunidad se definieron de manera diferente en ambos momentos electorales. El hecho de votar de manera optativa en el plebiscito de entrada y de manera obligatoria en el plebiscito de salida establece términos distintos para lo que uno podría definir como una configuración de la convivialidad política a través del proceso electoral. Es decir, si entendemos una configuración de convivialidad como la forma en que se define una cierta unidad de convivencia, en este caso electoral, es claro que el plebiscito de entrada lo hace en términos de participación voluntaria, de quienes presumiblemente se sienten interpelados en el proceso, en donde el acento se pone en el derecho a votar. Sin embargo, en el plebiscito de salida lo que se enfatiza es el deber de votar, una de las responsabilidades aparejada al ejercicio de ciudanía entre quienes habitan la comunidad política llamada Chile.[2] Dado el resultado electoral, aparentemente estos millones de nuevos votantes estuvieron, en su mayoría, disconformes con el proceso constituyente en general y con su resultado particular: la propuesta para una nueva carta fundamental. La ciudadanía es eso, una danza constante y ambivalente entre derechos y deberes; sin embargo, décadas de neoliberalismo económico y de luchas políticas identitarias han exacerbado la demanda y el reconocimiento de los primeros por sobre los últimos, especialmente en términos individuales. En este sentido, no es extraño que la propuesta constitucional fuera rechazada al percibirse como una amenaza para el ejercicio de las libertades y derechos individuales en el país.[3]

¿Qué hubiese pasado en Chile si en el plebiscito de entrada el voto hubiese sido obligatorio? Dados los resultados del pasado septiembre, no es tan evidente que el resultado hubiese manifestado el deseo compartido de la mayoría por redactar una nueva Constitución. De hecho, estudios de opinión en estos momentos plantean como dos opciones casi igualmente válidas la idea de reformar la actual Constitución y la de redactar una nueva. La pregunta que aún está abierta en este sentido, y lo que es aún problemático, tanto para una política de izquierda como una de derecha, es cómo legitimar la Constitución (actual o nueva) en términos de su poder para definir los contornos de la sociedad que los habitantes de Chile quieren habitar. Es un problema de legitimidad social y política porque ni las mayorías electorales (con sus resultados aparentemente opuestos en 2020 y 2022) ni las manifestaciones populares de descontento social (masivas en 2019, pero permanentes y cada vez más violentas desde hace más de una década) son en sí mismas propuestas normativas sobre las que articular la democracia como forma legítima de convivencia social.[4] Hoy no es claro que haya un consenso sobre qué tipo de orden normativo es necesario, deseado y legitimado para organizar la vida en común.

¿Qué rol juega la desigualdad en todo esto? Una de las mayores ironías de los resultados de la última elección es que el rechazo ganó de manera transversal, no solo, como era evidente, en sectores privilegiados, sino también de manera contundente entre grupos marcados por la marginalidad y la vulnerabilidad socioeconómica, cultural, y ecológica entroncadas en el país. Es decir, la inscripción rayada en varios muros durante las revueltas de octubre de 2019 no pasó de ser más que un deseo, quizás incluso, neoliberal.

El borrador propuesto para una nueva Constitución implicaba un cambio en los regímenes de convivialidad del país, cambiar los términos en los cuales dicha convivialidad se fundamenta. Hasta ahora, la Constitución actual, establecida en 1980 bajo la dictadura de Pinochet, aunque reformada en varias ocasiones durante los gobiernos democráticos, defiende el principio del Estado como un órgano subsidiario de la sociedad, es decir, un Estado que está al servicio de garantizar la libertad de las personas y sus elecciones, y que, al contrario que el Estado social de derecho, no prioriza formas de solidaridad y derechos colectivos como articuladores del orden social (Si bien hay quienes argumentan que subsidiaridad y derechos sociales no son incompatibles).

Instalación de la Conveción Constitucional de Chile en su primera sesión, presidida por Elisa Loncón, efectuada en el edificio del Ex-Congreso nacional de Chile ubicado en Santiago. Cristina Dorador, CC BY 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=107321183.

Dado el resultado del plebiscito de salida, en el que millones que antes se habían abstenido del proceso participaron con su voto, es posible suponer que las casi cinco décadas que han pasado desde el golpe militar, caracterizadas entre otros aspectos por el arraigamiento de una lógica neoliberal como estilo de vida, hayan generado una especie de atrofia social para imaginar que es posible una sociedad donde lo común (representado, por ejemplo, en la figura del Estado social de derecho, la plurinacionalidad o el derecho inalienable al agua) no opaque o medre el desarrollo, las capacidades, la posibilidad de elección o la acción individuales. Es precisamente en esta tensión entre lo individual y lo colectivo donde es necesario negociar cotidianamente la convivialidad. Es también en esa tensión donde se transforma aquello definido como diferente (lo otro, o lo normativamente no-normal) en desigualdad de manera estructural (en términos de desigualdades de género, étnicos, socioeconómicos, corporales, neuronales, etc.).

En este sentido, si bien está claro que hay malestar social, no está claro que este sea un malestar ni con el acuerdo normativo vigente, que presume al individuo como único artífice de su vida, ni que dé pie para generar acuerdos normativos colectivos que transformen el modelo actual.[5] El énfasis en lo colectivo es fundamental, porque es lo que permitiría romper la lógica individualista que sustenta la ideología neoliberal. En otras palabras, para transformar las desiguales estructurales que existen en el país, no es preciso solo establecer formas redistributivas de poder y de recursos, sino también promover una lógica distinta de convivialidad, en la que la solidaridad y el cuidado reemplacen el valor dominante en términos de acceso y reconocimiento individual. El rechazo no ha sido solo un rechazo al borrador de una nueva Constitución. El problema que revela este resultado electoral es también de convivialidad, y de una aparente desconexión entre las necesidades materiales derivadas de las múltiples carencias y desigualdades que se viven en el país (y cómo resolverlas), y de la definición de las normas básicas que legitiman la democracia (y cómo elaborarlas de una manera que trascienda el sistema electoral).[6] Quizás la cuestión más fundamental que está en juego hoy es el tipo de democracia que los habitantes de Chile quieren labrar, y, sobre todo, quiénes se sienten llamados y con deseos de hacerlo.[7] Esta cuestión puede resumirse en una pregunta sobre los principios que articulan la convivialidad en el país: ¿Es posible imaginar otras formas de constituir un orden social y de derechos, en el que la solidaridad y el cuidado sean los principios articuladores y legitimadores de la democracia, y en el que, a su vez, sean esos mismos principios en los que se asiente una concepción de los derechos individuales, y no al revés? La pregunta, no solo en Chile, sigue abierta.

[1] Cabe la pena destacar que, de acuerdo con el SERVEL, la elección del plebiscito de entrada congregó a la mayor cantidad de votantes voluntarios hasta entonces en la historia del país. Es decir, las preguntas sobre la necesidad de cambiar la Constitución, y a través de qué mecanismo hacerlo, concitaron la participación política voluntaria más alta hasta entonces.

[2] La distinción entre el derecho y el deber de votar es interesante pues demarca los términos en que la participación genera ciudadanía, de manera más o menos individualista. En un contexto democrático liberal, el voto voluntario es la epitome de la participación en términos de libertad de elección, mientras que el voto obligatorio combina la participación individual con una obligación colectiva para el mantenimiento de la comunidad política. Por tanto, cómo se ejerce el voto revela la tensión entre derechos individuales y colectivos en la conformación de la comunidad política, y cómo, incluso para el funcionamiento de la democracia electoral, no todos los derechos son individuales. Agradezco los comentarios de Samuel Barbosa que me han ayudado a enfatizar y elaborar mejor este aspecto.

[3] De hecho, al momento de escribir este blog, políticos de derecha han propuesto al gobierno del presidente Borić un numero de cortapisas para la elaboración de la nueva propuesta, enfatizando la necesidad de garantías para la protección de derechos individuales principalmente entendidos en términos de propiedad privada y capacidad de elección de servicios (salud, educación, pensiones), aunque no sobre la capacidad de las mujeres de decidir sobre su propio cuerpo. Ver Juan Manuel Ojeda, “Los ocho principales nudos que entrampan las negociaciones para sellar el acuerdo para redactar una nueva Constitución” (2022).

[4] De hecho, no solo en Chile, la democracia liberal lleva décadas dando señales de inestabilidad y una incapacidad aparentemente estructural para dar cuenta de los desafíos sociales, ecológicos y normativos de las sociedades contemporáneas. Ver Jan Aart Scholte,After Liberal Global Democracy: New Methodology for New Praxis(2019).

[5] El diario El País publicó una nota sobre Petorca, una localidad de sequía crónica, donde también ganó el rechazo pese a que el texto propuesto garantizaba el derecho al agua.

[6] En este sentido, es una constatación empírica de la tensión entre democracia procedimental minimalista y formas de entender la democracia de manera más sustantivamente.

[7] Lo que está claro es que la gran derrota en el plebiscito de salida es de representación y de deliberación democrática, no de participación política.

International Call for Applications: Postdoctoral Fellowships

Cebrap has open calls for two postdoctoral fellowships associated with the Research Project “Crises of Democracy: Critical Theory and Diagnosis of Present Time”

Global Convivial Forum 

The Center for Law and Democracy (NDD) of the Brazilian Center for Analysis and Planning (CEBRAP) open calls for applications for two funded postdoctoral fellowships to work within the scope of the Thematic Project “Crises of Democracy: Critical Theory and Diagnosis of Present Time”. 

The centres are looking for proposals within the themes Political Theory about Fascism and Institutionalism and Crises of Democracy.

Summary

The Center for Law and Democracy (NDD) of the Brazilian Center for Analysis and Planning (CEBRAP) opens a call for applications for one (1) funded postdoctoral fellowship to work within the scope of the Thematic Project “Crises of Democracy: Critical Theory and Diagnosis of Present Time” (Fapesp Process nº 2019/22387-0). The project is hosted in the city of São Paulo, Brazil, under the coordination of Professor Marcos Nobre. The candidate’s research should focus on the current phenomenon of erosion of democratic institutions, highlighting the problems and theoretical challenges that institutionalist currents face in addressing this problem. The research should discuss and problematize the premises of institutionalist theories, as well as theoretical innovations relevant to the theme.

The fellowship contributes to the project’s general goal of reconstructing the works of Critical Theory authors, as well as their understanding of democracy in the context of the crises of democracies in the first half of the 20th century, thus contributing to the effort of updating their theses and categories for our present moment. For more information on the process, see: Auxílio à pesquisa 19/22387-0 – Filosofia social, Teoria crítica – BV FAPESP.

Requirements

The selected candidate is expected to be assiduous and committed to the activities of the Thematic Project, participating in periodic research and training meetings, seminars, and courses. Among the specific tasks of the fellowship, we highlight the production of manuscripts for academic publication, the presentation of research in internal and external seminars, the preparation of reports, as well as other activities relevant to the project. The scholarship grant is provided by the São Paulo Research Foundation (FAPESP), which aims to strengthen the research staff in the state, through the engagement of young scholars in teaching, research, extension, and, eventually, mentoring activities.

The application requirements are:

  1. To have completed your doctorate no more than 5 years ago (or expect to complete it before the start of the scholarship period);
  2. An excellent academic curriculum;

iii. A project related to the theme of the public notice;

  1. Full dedication to the project;
  2. To be living in São Paulo by the start of the fellowship.
  3. It is the responsibility of foreign candidates to verify and obtain legal documentation for entry and permanence in Brazil, if selected.

For more information on the candidate’s requirements and commitments, please consult Fapesp’s general criteria: Post-doctoral fellowships (fapesp.br). However, it is important to consider that this call is linked to the Thematic Project and therefore follows specific rules for the selection process. The scholarship lasts two years, with an expected starting date of January 1, 2023. The beginning date, however, is dependent on the bureaucratic procedures at FAPESP. The current value of the monthly payment of this grant is BRL $ 8,479.20. The grant also includes a technical reserve, whose usage rules can be consulted here: FAPESP Technical Reserve. A one-time reallocation allowance of BRL $ 8,479.20 (for reallocation of more than 50 km), as well as travel fares for the grantee, spouse, as well as dependents (for reallocation of more than 350 km), might also be covered by FAPESP, subject to certain conditions.

Application

Applications will be open until October 31, 2022. Interested parties should send an email entitled “Post-Doc Fellowship – institutionalism and crises of democracy” or “Post-Doc – political theory about fascism” to the electronic address selecaondd@gmail.com, with the following documents:

  1. Curriculum Vitae (up to 2 pages), including main publications;
  2. Synthetic research proposal (up to 4 pages), which must be related to the topic described in this notice. Include title, abstract, description of objectives, work plan with methodology, work plan with expected results, and justification;

iii. Complete graduate school transcript;

  1. Doctorate completion certificate, or letter indicating the defense until the beginning of December 2022.

We strongly encourage the application of black, indigenous, and disabled people.

Selection Process

The selection process will take place in two stages.

  1. i) Elimination: analysis of the submitted documentation, considering their adequacy to Fapesp’s criteria.
  1. ii) Classification: interviews with senior and principal researchers of the Thematic Project. The following criteria will be adopted in the selection process: a) experience in the area; b) quality of the project, and adequacy to the aims of this call.