Os desenvolvimentos contemporâneos em diferentes setores têm contrariado de forma radical as expectativas antes disseminadas por estudiosos e atores políticos progressistas. Considerava-se que a globalização mitigaria as desigualdades sociais, reforçaria a democracia, os direitos humanos e facilitaria a coexistência com as diferenças. Entretanto, acontecimentos recentes em partes diversas do mundo tem frustrado essas expectativas.

As recentes vitórias eleitorais de forças da direita e da extrema-direita em diferentes países têm mostrado inequivocamente como as estruturas democráticas são tão essenciais, quanto frágeis. Além do mais, as mudanças nas estruturas sociais e de poder, a nível nacional, levaram a mais tensões nas interações quotidianas e à construção de novos inimigos fictícios (refugiados, imigrantes, minorias, etc.), como se pode notar pelo aumento da concentração de renda, esmagamento da classe média, pelas de reconfigurações de assimetrias gênero e étnico-raciais, entre outros fatores. 

No âmbito das relações entre humanos e natureza, ainda que a conscientização sobre a finitude dos recursos naturais venha acompanhada em tempos recentes de maior cuidado com o meio-ambiente em determinados contextos, abriu-se também um novo ciclo do fundamentalismo de mercado e da pilhagem ambiental.

Esse é o contexto geral da discussão entre convivialidade e desigualdade, ou seja, de acordo com o eixo de pesquisa do Mecila, o modo como as desigualdades sociais e hierarquias são negociadas e rearticuladas tanto nas interações cotidianas como no interior de instituições.

Na conferência, as relações de convivialidade e desigualdade serão discutidas teoricamente, e também em seus contextos e fenômenos específicos. Iremos abordar tanto as configurações contemporâneas, quanto processos históricos.