Pesquisadoras/es visitantes

Islam Dayeh é professor assistente de Estudos Árabes e Islâmicos na FU Berlim. Obteve seu doutorado na FU Berlim em Estudos Árabes, seu mestrado na Universidade de Leiden (Estudos Islâmicos) e na Universidade de Oxford (Estudos Judaicos), bem como seu bacharelado na Universidade da Jordânia, em Amman. É diretor do Programa de pesquisa transregional “O futuro da Filologia: revisitando os cânones da pesquisa textual” (2010-), e editor fundador do periódico e da série monográfica “Encontros filológicos” (2016-). Em 2022, recebeu a bolsa “Consolidator-Grant”, do European Research Council, para o projeto “Polimatia e interdisciplinaridade nas culturas epistêmicas islâmicas pré-modernas”. Foi professor visitante e pesquisador na Universidade Columbia, no Instituto Doha de Pós-graduação, na Universidade Americana do Cairo, na Biblioteca do Congresso e na Escola de Religião e Sociedade de Luxemburgo.

Projeto: A Nova Andaluzia. Negociando a convivência no jornalismo árabe na América Latina de 1890 a 1950

Resumo:

Estima-se que quase 200 jornais e revistas literárias árabes tenham sido publicados na América Latina dos anos 1890 aos anos 1950. Essas publicações não apenas refletem as lutas e aspirações dos imigrantes árabes do Líbano, Síria e Palestina, governados pelo Império Otomano, mas também são uma fonte rica para pesquisar sobre como as comunidades diaspóricas árabes se engajaram em novos gêneros literários e atividades editoriais com o objetivo de imaginar um novo lar além da pátria nacional. No entanto, apesar de sua importância histórica, essas publicações permanecem inacessíveis e pouco estudadas. O projeto analisa as maneiras pelas quais esses escritores e editores construíram uma nova identidade cultural, que combinava a identidade nacional de sua terra natal (Síria, Líbano, Palestina) e sua luta pela libertação (primeiro do domínio Otomano e depois do domínio colonial) com um passado sefardita e andaluz romantizado, integrante da cultura latino-americana.

Disciplina principal: Estudos Árabes e Islâmicos

Cecilia Nuria Gil Mariño é doutora em História e mestre em Artes Cênicas e Cinema Argentino e Latino-americano pela Universidade de Buenos Aires. É pesquisadora e professora na Alemanha e na Argentina. Recebeu uma bolsa de pós-doutorado da Fundação Alexander Humboldt pelo Instituto Luso-Brasileiro da UzK, onde é atualmente pesquisadora convidada, e também foi selecionada como pesquisadora assistente pelo Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (CONICET). Durante seu doutorado e pós-doutorado, obteve diversas bolsas para realizar pesquisa, na Argentina, na Alemanha e no Brasil, sobre as relações entre o cinema argentino e brasileiro nos primórdios do som, além de questões de gênero e violência nas obras de Carlos Hugo Christensen e Walter Hugo Khourina. É também pesquisadora convidada do Instituto de Artes do Espetáculo da UBA, onde participa de projetos sobre o cinema clássico argentino  e o comportamento das plateias. É autora de El mercado del deseo. Tango, cine y cultura de masas en la Argentina de los ´30 (Teseo, 2015) e Negocios de cine. Circuitos del entretenimiento, diplomacia cultural y Nación en los inicios del sonoro en Argentina y Brasil (Universidad Nacional de Quilmes, 2019), ambos premiados pelo Fundo Nacional das Artes (FNA), pela Associação Argentina para o Audiovisual e Estudos Cinematográficos (AsAECA) e pela Universidade Nacional de Quilmes. Participa ativamente do desenvolvimento de projetos artísticos e culturais, como festivais e residências na Argentina, no Brasil e na França.

Projeto: “No escurinho do cinema”. Sexualidade, espaço urbano e salas de cinema em Buenos Aires, no Rio de Janeiro e em São Paulo (1940-1950)

Resumo:

Este projeto visa contribuir para a análise da experiência cinematográfica como parte da modernidade urbana, com foco na sexualidade e nas relações de gênero nas décadas de 1940 e 1950, em Buenos Aires, no Rio de Janeiro e em São Paulo. As salas de cinema foram espaços privilegiados para a normativização da sexualidade, bem como para a sua transgressão por mulheres e dissidências. Como tal, essas salas constituíram contextos de convivialidade (Segura, 2019), nas quais aconteciam diversas interações, como integrações, negociações e tensões entre classes, grupos étnicos, gerações e gêneros. Numa perspectiva comparativa, o projeto se propõe a indagar como esses espaços participaram de diferentes cartografias urbanas da sexualidade que, devido à censura do Estado e às repressões sociais, apresentavam fronteiras difusas e instáveis. A análise desses mapas, nos quais confluem entretenimento e sexualidade, se concentra em circuitos de exibição de filmes pornográficos, que formavam parte das territorialidades do comércio sexual e da sociabilidade homoeróticas; no despertar sexual feminino; e em sua dimensão perigosa como lugar de possível assédio sexual.

Disciplina principal: História

Jörn Etzold é professor do Instituto de Artes Cênicas na RUB. Suas áreas de interesse atuais são teatro/performance em ambientes pós-industriais, infraestrutura e Teoria Estética (Ästhetik), bem como Teatro e Teoria do Direito (Rechtskritik).

Projeto:Teatros do Proto-Jurídico. O Tribunal Russel e o Tribunal Permanente dos Povos sobre genocídio e extração na América do Sul

Resumo:

Este projeto analisa tribunais extrajudiciais sob a perspectiva dos Estudos de Teatro, da pesquisa da performance e da Teoria Política. Ele tem como foco o Quarto Tribunal Bertrand Russell, realizado em Roterdã em 1980, “sobre o direito dos povos indígenas das Américas”, que julgou casos de expropriação, genocídio e roubo de terras contra povos indígenas na América Latina durante as ditaduras militares da época. Muitas vezes, esses casos estavam relacionados a projetos de infraestrutura, como represas hidrelétricas ou extração de recursos. O projeto também examina as sessões do principal sucessor dos Tribunais Russell, o Tribunal Permanente dos Povos, uma ONG fundada em 1979, em especial o Tribunal do Cerrado (em andamento), que se propõe a “julgar o crime de ecocídio contra o Cerrado e a ameaça de genocídio cultural dos povos do Cerrado”. Apesar da falta de validade jurídica desses tribunais, as audiências frequentemente pressionam governos locais e nacionais e reúnem documentação, que é então utilizada em processos judiciais ordinários. No entanto, os tribunais também levantam perguntas incômodas sobre a “violência epistêmica” (Gayatri C. Spivak) do conceito de direitos de propriedade privada da lei ocidental. Apesar dessas questões, eles também podem possibilitar a articulação e a performance ritual de outros conceitos de justiça, convivialidade e relações com a terra e com seres não-humanos.

Disciplina principal: Artes Cênicas

Professor do Departamento de Sociologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), atuando principalmente nos seguintes temas: Pensamento Social Brasileiro, Literatura e Sociedade, Intelectuais Negros e Memória Social. Autor dos livros: “Os escritores da guerrilha urbana: literatura de testemunho, ambivalência e transição política (1977-1984)” [2008]; “A descoberta do insólito: literatura negra e literatura marginal no Brasil (1960-2000)” [2013]. Coorganizador das obras: “Polifonias marginais” [2015] e “Rumos do sul: periferia e pensamento social” [2018].

Projeto: Convivialidade e conflito: antirracismo, memória social, patrimônio cultural e disputas de sentido no Brasil contemporâneo

Resumo: 

Minha proposta de pesquisa procura discutir ações de movimentos sociais e reivindicações de políticas de memória no Brasil, que se conectam com uma agenda transnacional, envolvendo lutas antirracistas. Minha hipótese é de que as disputas pelas políticas de memória social são componentes fundamentais da luta antirracista e anticolonial e isso tem sido articulado de maneira intensa por movimentos negros, de povos originários e de periferias urbanas. Pretendo analisar aspectos recentes de três ações de políticas antirracistas de memória social no Brasil: 1) a criação, em 2005, do Memorial dos Pretos Novos do Cais do Valongo (RJ); 2) o projeto Salvador Escravista (BA), criado em 2020; 3) o Ato de incêndio da estátua de Borba Gato pelo Coletivo Revolução Periférica (SP), em 2021; além dos debates decorrentes com o poder público e diferentes setores sociais. Há uma disputa de sentidos narrativos sobre essas grandes metrópoles e as possibilidades de existência democrática das memórias traumáticas com um acerto de contas sobre o presente. Aqui, a hipótese da convivialidade como uma ferramenta teórica que articule desigualdade de poder e diferença de sentidos sociais me parece bastante instigante para articular aqueles agentes e ações contingentes.

Disciplina principal: Sociologia

Maud Meyzaud estudou Filosofia em Estrasburgo, França, e em Berlim, Alemanha. É doutora em Estudos Literários pela Universidade de Constança e recebeu o Prêmio da Cidade de Constaça em 2010. Foi pesquisadora de pós-doutorado em Estudos Literários na Universidade de Erfurt; professora assistente no Departamento de Alemão da FernUniversität em Hagen e no Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada na Goethe-University Frankfurt. Também foi professora assistente visitante no Departamento de Alemão da Northwestern University, Evanston, EUA. Atualmente é pesquisadora associada no Centro Leibnitz para Pesquisa Literária e Cultural (ZfL) em Berlim e professora livre-docente na Goethe University Frankfurt, onde recebeu a venia legendi em Literatura Comparada e Literatura Alemã em 2020. Além disso, atua na área de Teoria e Metodologia da Cultura em Constança, na qual substitui a professora e escritora Kirsten Mahlke.

Projeto: Cosmopolitanismos judaico-latino-americanos: histórias de convivialidade entrelaçadas no despertar da migração forçada (1937-1956)

Resumo:

Entre os refugiados que conseguiram sair da Europa fascista até o final da década de 1930, intelectuais judeus laicos chegaram à América Latina para escapar da política racial nacional-socialista. Sua chegada ao Caribe e aos países da América Latina se tornou um ponto de partida para reflexões intensas sobre a convivialidade em condições específicas de exílio. Meu projeto de pesquisa parte do pressuposto de que viajar sem documentos adequados e experienciar como é se tornar um ‘estrangeiro indesejado’ transformou profundamente a subjetividade cosmopolita de escritores como Anna Seghers, no Caribe e na Cidade do México, e Anatol Rosenfeld, em São Paulo. Proponho que a abordagem pós-colonial das realidades históricas e sociais do Caribe ou do Brasil influencie suas respectivas escritas do final da década de 1940 e do início da década de 1950, e que essas tenham de ser estudadas a partir dessa experiência. Privados de sua casa e de seus direitos fundamentais, Seghers e Rosenfeld, assim como outros intelectuais judeus (Flusser, Zweig), foram capazes de apreender as culturas de convivialidade (crioulas) do Caribe ou (transraciais) do Brasil como verdadeiras alternativas à sua própria cultura cosmopolita “Iluminista”, enquanto confrontavam sua própria judaicidade e buscavam novas alianças baseadas em histórias entrelaçadas.

Disciplina principal: Estudos literários