Pesquisadoras/es de pós-doutorado visitantes

Allan da Rosa é mestre e doutor em Cultura e Educação pela USP. É escritor de ficção, historiador e angoleiro. Dramaturgo, escreveu peças premiadas com companhias teatrais de SP, RJ e MG. Arte-educador, há anos organiza cursos autônomos de formação em estética e política afro-atlânticas. Palestrou, recitou, foi oficineiro e debateu em rodas, feiras, universidades, bibliotecas e centros comunitários de Cuba, Moçambique, EUA, México, Colômbia, Bolívia e Argentina.

Project: Convivência entre ternura, humor e violência: fogo de homens pretos

Abstract:
Meu projeto de pesquisa atual situa-se no campo dos estudos do imaginário, estética e política. Investigo masculinidades negras em estilísticas de resistência nas artes do verbo, atento aos labirintos e anunciações que combinam comicidade/revolta, criatividade/tutela e zombaria/desespero, enquanto afrontam pilares de uma ideia de Razão (moderna e eurocêntrica) e roçam as noções correntes de loucura. Busco também compreender as relações entre as comunidades negras, nossas perspectivas de liberdade e o uso de recursos caros tanto à solidariedade quando ao autoritarismo em suas diversas esferas. Considero como homens negros no Brasil e na diáspora africana pelas Américas emaranham-se, refutam ou deslizam pelos discursos históricos de formação nacional brasileira. O mote fundamental de meu projeto são as expressividades negras que lidam com bases da Razão ocidental e o que esta considerou como maluco e irracional. O humor da lábia negra através da ironia, da paródia, do dito “nonsense” e do escárnio lidou com as fronteiras da noção instituída de Razão, por vezes em plenas condições de desespero. Me concentro no estudo de desafios verbais, adivinhas e sátiras que utilizam técnicas do silêncio, do caricatural, da opacidade e do susto para estabelecer lógicas de convivialidade e afrontar discursos de desqualificação do corpo e da psique de pessoas negras.

Main discipline: Educação/Literatura

Eugenia Brage é bacharel e doutora em Antropologia Social pela Universidade de Buenos Aires (UBA). Foi bolsista de doutorado e pós-doutorado pelo Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (CONICET). Atualmente realiza sua pesquisa de pós-doutorado no Centro de Estudos da Metrópole (Cepid/Fapesp), com sede na USP e no CEBRAP. Sua pesquisa gira em torno das migrações, dos processos de saúde/doença/atenção e cuidados e sustentabilidade da vida, temas dos quais se aproxima etnograficamente a partir de perspectivas feministas. É docente da Faculdade de Trabalho Social da UBA. Trabalhou em diversos projetos internacionais e integra vários grupos de pesquisa, como o Observatório de Migração e Saúde e o GT CLACSO Migrações Sul-Sul, entre outros.

Projeto: Sustentabilidade da vida em contextos transnacionais: Etnografia com mulheres bolivianas que vivem em São Paulo e Buenos Aires

Resumo:

O projeto tem como objetivo analisar os modos de sustentar, manter e gerir a vida de mulheres bolivianas residentes na Cidade Autônoma de Buenos Aires, Argentina, e em São Paulo, Brasil. A proposta se inspira, por um lado, nos resultados da minha pesquisa de pós-doutorado desenvolvida, ao longo da pandemia de COVID-19, com mulheres bolivianas residentes em São Paulo e, por outro, em um trabalho de campo realizado no âmbito de uma estadia de pesquisa em Buenos Aires, o que me permitiu estabelecer comparações entre as estratégias cotidianas para garantir a reprodução da vida em ambos os contextos migratórios. Pretendo analisar em profundidade o material de campo coletado com foco no eixo convivialidade-desigualdade e sua articulação com a categoria de sustentabilidade da vida, que se refere ao conjunto de atividades produtivas e reprodutivas, individuais, coletivas e comunitárias, que envolvem tanto disposições e motivações ético-afetivas quanto tarefas cotidianas concretas. A proposta prevê contribuições em duas linhas principais: primeiramente, nos debates sobre convivialidade aplicados às migrações sul-sul e às discussões em torno da sustentabilidade da vida no contexto latino-americano; em segundo lugar, procura aprofundar a discussão teórica sobre convivialidade a partir do confrontamento com perspectivas e epistemologias feministas do sul.

Disciplina principal: Antropologia social

Guilherme Bianchi é doutor em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e possui mestrado em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Tem experiência nas áreas de Teoria da História, História Indígena e História Intelectual. Foi pesquisador visitante no Goldsmiths College, University of London (2018), e no departamento de Antropologia da Universidade da Califórnia (UC), Davis (2019). Sua tese de doutorado (2020) aborda os dilemas e as estratégias de comunidades indígenas da América do Sul no passado e no presente, enfatizando de que maneiras a ação política e a produção cosmológica dessas comunidades desestabilizam aspectos formativos das tradições disciplinares e políticas modernas. A tese, intitulada “Historicidades em deslocamento: tempo e política entre os Ashaninka da Amazônia peruana e os Misak dos Andes colombianos”, foi indicada ao Prêmio CAPES de Tese em 2021 pelo Programa de Pós-Graduação em História (UFOP) e está em processo de preparação para publicação em livro. Em 2022, Bianchi recebeu uma bolsa de estudos do King’s College London e da Canning House Library para a realização de pesquisa de arquivo sobre a história da Amazônia peruana.

Projeto: Regimes de convivialidade na história dos Ashaninka da Amazônia peruana

Resumo:

Na história de longa duração da Amazônia peruana, a questão da convivialidade como forma de modular a coexistência entre grupos esteve sempre no centro das preocupações políticas dessas sociedades – antes, durante e depois dos processos de colonização. O projeto pretende pensar o caso dos grupos Ashaninka que habitam parte da região amazônica no Peru contemporâneo. Atualmente, boa parte dos discursos indígenas emergentes na região articulam-se através do ethos de convivialidade, que envolve cruzamentos entre determinados sentidos de corporificação (embodiment) e práticas políticas institucionalizadas. Nas últimas décadas, a simultaneidade de inúmeras formas de violência na região – a presença de guerrilhas armadas e do Exército Nacional, o avanço do agronegócio, as investidas desenvolvimentistas etc. – significou a necessidade de ativação desses discursos como formas de reconstruir laços e de reorganizar a vida comunitária entre os Ashaninka. Mas atestados nas histórias contadas, nas memórias das antigas gerações, nas fontes oficiais da monarquia ibérica e mesmo em registros de diferentes sociedades pré-colombianas, outros contextos conviviais e outras dinâmicas de negociação, amizade e inimizade podem ser traçados. O projeto pretende, assim, localizar as linhas que atrelam os diferentes modos de ação e imaginação na história profunda e na política cotidiana dos Ashaninka da Amazônia peruana.

Disciplina principal: História

Melanie Strasser estudou Filosofia e Tradução na Universidade de Viena, pela qual participou de programas de intercâmbio com a Universidade do Porto e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Sua tese de doutorado, realizada no Departamento de Línguas Romanas da Universidade de Viena, tratou das múltiplas relações entre antropofagia e tradução. Durante seu doutorado, foi pesquisadora no Centro de Pesquisa Internacional para Estudos Culturais (IFK), em Viena, e pesquisadora visitante da Universidade Yale, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e do IAI. Foi livre-docente no Centro de Estudos de Tradução em Viena. Atualmente trabalha como editora e tradutora literária.

Projeto: Tradução como hospitalidade. Sobre a impossibilidade de (não) absorver o Outro.

Resumo:

O projeto de pesquisa “Tradução como hospitalidade. Sobre a impossibilidade de (não) absorver o Outro” procura explorar a hipótese de que o ato da tradução possa ser pensado como uma cena de hospitalidade. Em última análise, a hospitalidade exibe uma estrutura aporética, uma constante oscilação entre amizade e hostilidade, e um momento de violência, já que todo estrangeiro, todo convidado, deve se submeter à lei da casa do anfitrião, sua economia e sua língua. Em seu duplo vínculo de amizade e hostilidade, possibilidade e impossibilidade, a hospitalidade parece refletir o processo de tradução com seus sentimentos ambivalentes e abordagens em relação ao Outro que deve ser traduzido, recebido e absorvido; em outras palavras, que deve ser colocado sob a lei da própria língua e cultura. Considerando uma perspectiva ameríndia, o projeto de pesquisa procura entender a tradução como uma ética da hospitalidade, uma xenosofia, como um processo de tornar-se o Outro ao incorporá-lo. Isso envolve abandonar quaisquer noções de identidade, de um horizonte cultural, e em vez disso pensar na tradução como uma forma de convivialidade canibal, uma alteridade na qual não é distinguível quem é o tradutor e quem é o traduzido, quem é o convidado e quem é o anfitrião.

Disciplina principal: Estudos de Tradução