Pesquisadoras/es de pós-doutorado visitantes

Doutora em Antropologia Social pelo Museu Nacional (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e mestre em Etnologia e Antropologia Social pela École des Hautes Études en Sciences Sociales. É integrante do Laboratório de Antropologia Ritual e Memória (LARMe) do PPGAS – Museu Nacional. Tem experiência de trabalho de campo na região do Médio Araguaia e participa do projeto colaborativo de elaboração e construção do Museu Apyãwa-Tapirapé pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Atua como colaboradora permanente da Associação das Mulheres Indígenas Apyãwa (AMIAP) e colabora com a Coordenação e Organização Povo Indígena Apyãwa (COPIAP) no projeto de monitoramento ambiental em parceria com o Fundo Brasil (2024). As áreas de atuação da pesquisadora são antropologia dos objetos e dos rituais, etnologia indígena, teoria antropológica e museus indígenas.

Projeto: Ype: os Itinerários de uma Máscara Apyãwa-Tapirapé (1960-2023)

Após uma experiência etnográfica entre os Apyãwa-Tapirapé do Brasil Central, buscarei neste projeto investigar os desdobramentos de um artefato específico daquele povo, a saber, a máscara Ype (Cara-Grande). Evocando os inimigos históricos dos Apyãwa-Tapirapé, a máscara consta nos acervos de diversos museus etnográficos europeus, norte-americanos e brasileiros. O objetivo da pesquisa será retraçar os sentidos da circulação da máscara Ype, aprofundando dois momentos-chave: (i) o contexto em que as máscaras foram produzidas e vendidas para fora da aldeia pela primeira vez (anos 1960), apontando para um laço de convivialidade e desigualdade; (ii) a atual recepção dos Apyãwa-Tapirapé em relação às imagens digitais das máscaras. Parte-se da hipótese de que as máscaras ativas nos rituais mantêm certas características deliberadamente excluídas das máscaras produzidas para venda e que a confecção de objetos ineficazes, armazenados em museus, não os torna objetos necessariamente estéreis. A relevância de tais questões e a plausibilidade de tais hipóteses fundamentam-se em etnografia já realizada entre os Apyãwa-Tapirapé, que suscitou empiricamente o encaminhamento sugerido neste projeto. Além disso, as questões relativas à eficácia e ineficácia das materialidades em contexto museológico ensejaram amplo debate entre pesquisadores e seus interlocutores de diversos povos ameríndios das terras baixas da América do Sul.

Disciplina principal: História

Publicações selecionadas:

Coutinho, Ana (2023): “Politics of Devastation: Remarks on De-Democratization, Indigenous Peoples, and the Environment in Contemporary Brazil”, in: Bianchi, Bernardo; Chaloub, Jorge; Rangel, Patrícia; Wolf, Frieder Otto. (eds). Democracy and Brazil: Collapse and Regression, New York: Routledge, 194–207.

Coutinho, Ana G. N.; Pissolato, Elizabeth; Teixeira, P. H.; Tapirapé, K. (2024): Os caminhos do Museu Apyãwa: um processo de musealização em curso (trabalho estendido para o GT 76 da RBA, coordenado por Luísa Valentini e Aristóteles Barcelos).

Coutinho, Ana; Oliveira, Pedro; Tapurapé, Nivaldo (2023): “Produzindo a vida entre Terra, Escola e Museu: algumas notas sobre o processo de retomada apyãwa”, in: Pissolato, Elizabeth; Oliveira-Castro, Andréa (eds.), Políticas ameríndias de contracolonialidade no século XXI, Juiz de Fora: ed. UFJF, 30–51.

Coutinho, Ana et al. (2023): Memorial Museu Apyãwa-Tapirapé: Abordagem etnográfica e Estudo Preliminar Arquitetônico, Juiz de Fora: UFJF.

Coutinho, Ana (2021): Objetos rituais do povo Apyãwa/Tapirapé do Brasil Central (MT): a coleção Charles Wagley e os rituais na aldeia Tapi´Itãwa da Terra Indígena Urubu Branco, Rio de Janeiro: Museu Nacional.

Doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2022), mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (2016) e graduado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Maranhão (2013). Tem experiência nas áreas de Antropologia e Sociologia, com ênfase nos temas: ruralidades, povos e comunidades tradicionais, conflitos agrários, territórios e violência antinegra.

Projeto: Raça e Desenvolvimento Econômico: Mapeando a Antinegritude em Intervenções Planejadas Baseadas na Economia do Babaçu no Maranhão/Brasil

O presente projeto pretende analisar o modo como as associações entre desenvolvimento econômico e antinegritude estão relacionadas a intervenções planejadas referentes a economia do babaçu entre 1920-1980 no Maranhão/Brasil. A partir da discussão da economia do babaçu, pode-se mapear diferentes agentes e intervenções públicas, com destaque para as transações econômicas e elaborações técnico-políticas que associam desenvolvimento econômico e pertencimento racial dos sujeitos e comunidades, apontando a indissociabilidade entre negritude e indignidade no mundo rural. Para tanto, será necessário analisar um conjunto disperso de intervenções políticas e discursos, em instituições públicas e privadas nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e São Luís, como palestras, boletins, projetos de intervenção e informes contidos em um enumerado de instituições, tais como a Associação Comercial do Maranhão, Fundação Getúlio Vargas, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério do Meio Ambiente, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, bem como elaborações de outros agentes de destaque. Palavras-chave: desenvolvimento econômico; antinegritude; economia do babaçu; discursos oficiais.

Disciplina principal: Sociologia

Publicações selecionadas:

Sousa, Igor Thiago Silva de (2024): “Vivendo o pós-cativeiro: proposições de quebradeiras de coco babaçu negras sobre territórios e alianças de libertação”, Revista ESA, 32, 1, 1–29.

Sousa, Igor Thiago Silva de (2023): “Raça, projetos de desenvolvimento econômico e quebradeiras de coco babaçu no Maranhão do século XX”, Simbiótica, 10, 2, 274–293.

Sousa, Igor Thiago Silva de (2022): “Corpos indignos: experimentos de racialização de povos e comunidades tradicionais pelo projeto de desenvolvimento nacional”, Revista ABPN, 14, 160–180.

Sousa, Igor Thiago Silva de (2021): “Mulheres negras e não-existência: quebradeiras de coco babaçu e reflexões críticas sobre o mundo”, Revista ABPN, 13, 36, 218–244.

Sousa, Igor Thiago Silva de (2019): “Um esboço sobre a emergência do Movimento Negro no Maranhão: rupturas e continuidades nas lutas étnico-raciais,” Simbiótica, 6, 2, 264–288.

tita (Letizia Patriarca) é Pesquisadora Colaboradora no PAGU – Núcleo de Estudos de Gênero da Universidade Estadual de Campinas. Obteve o Doutorado Dupla Titulação USP – Università di Bologna, realizando um trabalho entre Brasil e Itália, sobre (im)possibilidades de tradução de políticas relativas trabalho sexual. Durante três anos na Itália, colaborou com Ongs, redes acadêmicas e ativistas de trabalhadoras sexuais, pessoas trans e migrantes. Seus interesses de pesquisa e atuação seguem pensando nos processos etnográficos de tradução, entendidos como aberturas para afirmação de um diálogo transnacional que possa efetivamente comunicar em termos de políticas que impactam aquelas que realizam trabalho sexual. Com inspiração nas múltiplas produções de Gloria Anzaldúa, se interessa em elaborações bilíngues, possibilidades de traduções, elaborações criativas e formas comunicativas que possibilitem conexões interdisciplinares, interseccionais, decoloniais para além do público acadêmico.

Projeto: Entre “ajuda” e “tratta”: processos etnográficos e interseccionais de tradução entre Brasil e Itália

Proponho acessar o debate sobre tráfico de pessoas no contexto italiano, interrogando as metodologias de pesquisa e situando sua produção, para afirmar um diálogo transnacional acerca de políticas relativas ao trabalho sexual. Parto dos termos mobilizados por trabalhadoras sexuais brasileiras que circulam pelos mercados do sexo na Itália, para superar dicotomias e repensar os programas nomeados como “anti-tratta”, muito financiados no contexto italiano. Em diálogo com uma extensa bibliografia brasileira e internacional, argumento que o enquadramento dos trânsitos e movimentos migratórios de determinadas pessoas como crime de “tráfico de pessoas” é uma questão epistemológica e geopolítica. Acrescento a isso a dimensão metodológica, uma vez que partir dos termos – em sentido amplo – das pessoas em trânsito pode colocar em circulação outra gramática. Ao pensar na circulação de brasileiras como projetos transitórios ou mesmo como formas coletivas de estabelecer redes de apoio transnacional, se altera a estrutura terminológica e epistemológica, com consequências materiais em políticas públicas que recebem aquelas que transitam no contexto italiano.

Disciplina principal: Antropologia

Publicações selecionadas:

Patriarca, Letizia (2023): “Puta”, “travesti” e “brasiliana”: Processos interseccionais de tradução e criminalização entre Brasil e Itália, São Paulo; Bologna: USP; Università di Bologna.

Oliveira, Amanda; Caroline Harumy; Souza, Dianne Cassiano de; Higa, Lais Miwa; Patriarca, Letizia (2021): ‘Quem ta aí?’ Diferenças e Desigualdades na Formação Docente EaD. In: Tecnologias na educação, São Paulo: Artesanato Educacional.

Patriarca, Letizia (2018): “Donas de casa, de prostituição: sobre as violências decorrentes da criminalização dos contextos destas práticas,” Revista de estudos empíricos em direito, 5, 3, 212–223.

Patriarca, Letizia (2017): “Pelo bairro: um exercício descritivo da prostituição de travestis no Jardim Itatinga”, Ponto Urbe, 1, 20, 1–20.

Fiori, Ana Letícia; Assensio, Cibele; Andrade, Fabiana; Teixeira, Jacqueline M.; Patriarca, Letizia; Bo, Talita L. Dal (2017): “O tempo e o vento: notas sobre a arte de burocratizar políticas de cotas na USP”, Revista de antropologia, 60, 1, 55–83.

Livia de Souza Lima é doutora pela Universidade de Bielefeld, cuja pesquisa explora a representação política de mulheres negras e seu movimento em direção à ocupação institucional no Rio de Janeiro, Brasil. Com mestrado em Política, Economia e Filosofia pela Universidade de Hamburgo, sua especialização é em democracia radical, gênero e interseccionalidade, estudos raciais críticos, representação política e análise de discurso. Ela é co-fundadora do coletivo feminista Miradas Feministas, com sede em Hamburgo.

Projeto: Negociando a diferença: Uma Análise da Bancada Negra no Congresso Nacional Brasileiro

Em novembro de 2023, o Brasil formou sua primeira Bancada Negra do Congresso, marcando um esforço histórico para abordar a desigualdade racial sistêmica. Essa bancada une representantes negros de todos os partidos para promover uma agenda de justiça social compartilhada, enfatizando a mobilização coletiva necessária para desafiar as barreiras institucionais. Apesar de representar a maioria da população, os negros brasileiros ainda são minoria no Congresso, refletindo as persistentes desigualdades raciais na representação política. Este estudo busca analisar o surgimento da bancada, as prioridades legislativas e as negociações internas, com foco na dinâmica interseccional de raça, gênero e ideologia. Com base na Análise do Discurso Político, ele examina como a ação coletiva é moldada tanto pela solidariedade quanto pela tensão em uma estrutura multipartidária. A abordagem teórica integra o convívio, a teoria democrática radical e a interseccionalidade para explorar como as agendas raciais se cruzam com a política institucional, oferecendo percepções sobre o potencial transformador e os desafios da formação de coalizões para o avanço da justiça racial e social.

Disciplina principal: Ciências Políticas e Sociais

Publicações selecionadas:

Silva, Mayra da; Souza Lima, Livia de; e Fabris, Ligia (2022): “Violence Against Black Women in Politics: Experiences and Testimonials from Brazil,” Femina Politica, Zeitschrift für feministische Politikwissenschaft, 31, 2, 57–71.

Souza Lima, Livia de; Roth, Julia; e Quezada, Edith (2024): Feminisms in Movement: Theories and Practices from the Americas, Bielefeld: Transcript.

Souza Lima, Livia de (2024): “The Feminist and Decolonial Pedagogy of Lélia Gonzalez and Sueli Carneiro.”, in: Feminisms in Movement: Theories and Practices from the Americas, Bielefeld: Transcript.

Souza Lima, Livia de (2024): “Feminismo Negro (Black Feminism),” in: Galetti, Camila; Rivetti, Jéssica Melo (eds.), Feminismos em Movimento, Belo Horizonte: Editora Luas.

Souza Lima, Livia de (2024): “The Politics of Presence of Black Women Politicians in Brazil: Reclaiming ‘Political Representation’ as a Territory to be Occupied”, in: Kaltmeier, Olaf; Volmer, Ann-Kathrin; Peters, Mario (eds.), Environments of Inequality: Crisis, Conflicts, Comparisons, Biefeld: Kipu Verlag.