Graduada em letras e línguas pela UNESP/FCLAr (Universidade Estadual Paulista/Faculdade de Ciências e Letras), com especialização em português, latim e alemão. Também obteve o título de mestre em estudos literários pela mesma instituição em 2020, com especialização em poética da antiguidade latina tardia. Atualmente, é doutoranda na UzK, afiliada à a.r.t.e.s Graduate School of Humanities de Colônia e ao Instituto Luso-Brasileiro da UzK, com foco em estudos brasileiros no campo da filologia românica. Seus interesses de pesquisa incluem a representação de subjetividades na literatura, bem como as dimensões políticas e sociais críticas da literatura e seu papel nos tempos contemporâneos.
A construção de subjetividades e a mitopoética em A Obscena Senhora D, de Hilda Hilst, e O Manto da Noite, de Carola Saavedra
Este projeto de doutorado examina a obra A Obscena Senhora D (1982), de Hilda Hilst, e O Manto da Noite (2022), de Carola Saavedra. Por meio de análise comparativa, enfoca a construção de subjetividades e identidades, bem como os aspectos mitopoéticos, observando a linguagem e as estratégias narrativas das autoras. A pesquisa está estruturada em três seções principais. Primeiro, é examinada a construção das subjetividades e identidades dos personagens. Em ambas as obras, as identidades dos personagens são fragmentadas em formas humanas e não humanas, passando por várias metamorfoses e transformações. Esses personagens existem em contextos turbulentos e caóticos e possuem identidades fluidas. O foco principal é como as narrativas concebem as subjetividades por meio do uso descentralizado da linguagem. Os narradores descentralizados refletem a fluidez das identidades dos personagens nos romances de Hilst e Saavedra. Na segunda etapa da pesquisa, as técnicas narrativas que expressam a descentralização e a transgressão da figura do narrador são exploradas mais a fundo, já que ambos os romances empregam uma abordagem narrativa polifônica. Essa multiplicidade de vozes que compõem o foco narrativo, juntamente com a dissolução da identidade do narrador, começa a afetar o próprio texto. Nesse sentido, a coexistência e a mescla das fronteiras dos gêneros literários são observadas em ambos os livros, de modo que o corpo do texto também experimenta o movimento constante de seus personagens. Por fim, investiga-se a transformação e a reinterpretação de mitos tradicionais para transcender e questionar o imaginário cultural ocidental. Saavedra revisita os mitos coloniais ao explorar momentos históricos da colonização do Brasil e da América do Sul, buscando reconstruir, de certa forma, as cosmologias dos povos indígenas que foram destruídas e esquecidas pela violência do passado colonial. Ao mesmo tempo, Hilst destaca o impasse entre o humano e o divino, entre a vida e a morte, de uma forma que parece revisar e contradizer aspectos dos fundamentos cristãos, em especial a ideia de um Deus onipresente e detentor de uma única verdade, a fim de confrontar o paternalismo presente no mundo ocidental. De modo geral, o objetivo principal é investigar como Hilst e Saavedra, cada um à sua maneira, abordam questões de construção de identidade e confrontam o pensamento dominante transcendendo e radicalizando as formas literárias tradicionais do romance.